segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

SYRIZA VAI TER QUE NEGOCIAR PARA TER MAIORIA E ELEGER O NOVO GOVERNO DA GRÉCIA

Os limites da esquerda reformista
A Grécia está de volta na campanha eleitoral, após o fracasso no Parlamento, nesta segunda-feira (29/12), na indicação do candidato à Presidência da República escolhido pelo governo de coalizão. Eleições legislativas antecipadas foram anunciadas em um período de apenas quatro semanas. O tom das discussões sobe entre os conservadores da Nova Democracia (ND) e o principal partido da oposição de esquerda, o SYRIZA.
“O povo está determinado a pôr um fim à austeridade e memorandos. O governo Samaras já pertence ao passado”, disse Alexis Tsipras, presidente da coalizão de esquerda SYRIZA, imediatamente após a votação.
SEM MAIORIA ABSOLUTA, MUITAS NEGOCIAÇÕES.
Durante vários dias, quando parecia cada vez mais certa de que o candidato à presidência o Sr. Samaras não seria suficiente para atender os 180 votos necessários, o mundo político grego começou na batalha para essas eleições. Porque qualquer que seja o vencedor das próximas eleições, nenhuma das partes parece capaz de governar sozinha.
De acordo com pesquisas recentes, SYRIZA sempre vem em primeiro lugar com uma vantagem de entre dois e seis pontos sobre o conservador Nova Democracia (ND), isto não seria suficiente para obter uma maioria absoluta.
Syriza terá que encontrar parceiros para governar. Negociações subterrâneas começaram há várias semanas com o pequeno partido da Esquerda Democrática Fotis Kouvelis. Um acordo, em princípio, parece ter sido encontrado com a inclusão de pelo menos quatro dos dez atuais membros do Dimar em listas do SYRIZA para as eleições. Mas este acordo ainda precisa ser validado pelas instituições de ambas as partes.
Não existe possibilidade de acordos com o Partido stalinistas do KKE que se não pretende participar de acordos com o Syriza. Sendo assim, outra pista da possível coalizão seria com a direita grega como os independentes populistas (ANEL) Panos Kamenos. Muitas conversas foram realizadas nas últimas semanas entre o escritório e o Kamenos Tsipras.
Por fim, o mais novo do partido centro esquerda Para Potami (River), criado por uma estrela de televisão jornalista, pode tomar mais de 3% dos votos dos parlamentares. Seu presidente, Stavros Theodorakis, já manifestou a sua disponibilidade para cooperar com um governo liderado pelo Syriza.

PODERÁ A CHINA SALVAR A RÚSSIA DA FALÊNCIA?




Ao que tudo indica, Pequim está disposta a correr o risco de confrontar o imperialismo norte-americano para salvar a Rússia da falência financeira. Com reservas cambiais em quase Quatro Trilhões de Dólares -a maior do mundo - a China pode, se quiser, pagar as dívidas da Rússia e salvá-la do colapso.
Segundo o Financial Times de Londres, a Rússia não recebeu nenhuma ajuda significativa de financiamento internacional, mesmo a partir de bancos estatais chinesas, porque todo mundo tem medo de reguladores financeiros dos EUA.
Com uma saída anual de capital de US $ 125 bilhões, reservas cambiais líquidas de apenas US $ 200 bilhões e as dívidas externas totais de US $ 600 bilhões, a Rússia iria ficar sem dólares e iria à falência em menos de dois anos”
Na última reunião de cúpula da União Europeia, a maioria dos países foi a favor de mais sanções contra a Rússia, mas pesos pesados como o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, o presidente francês François Hollande e o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi ficaram contra. Os principais jornais europeus também alertaram para o risco de um colapso do Estado russo.
O que pesa, também, na decisão da China em responder à crise do rublo é o arrefecimento de economia e crescente protestos sociais de sua classe operária e camponesa , o que poderia ser agravado com a implosão econômica e política de seu vizinho do norte.
Os conflitos econômicos em erupção entre as grandes potências com a crise do petróleo e com a unidade de guerra imperialista em Eurásia atestam o estado avançado da crise do capitalismo mundial, e o risco crescente de uma guerra mundial: a ajuda chinesa para a Rússia, que deve se materializar, irá agravar os conflito, com os EUA tentando cercar a China militarmente através do "pivot para a Ásia," uma aliança com o Japão, Austrália e Índia. Planos para a guerra com a China, tanto econômica como militar, estarão em pauta, sem dúvida, sobre a mesa em Wall Street e no Pentágono.

domingo, 28 de dezembro de 2014

CUBA - EUA

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O novo acordo EUA-Cuba e a
luta em defesa do Estado proletário


Declaração assinada por: Liga Comunista – Brasil; Tendência Militante Bolchevique – Argentina; Socialist Fight – Grã Bretanha; Coletivo Lenin - Brasil; Resistência Popular Revolucionária - Brasil.

Após 18 meses de conversações secretas entre EUA e Cuba, mediadas pelo Canadá e pelo papa Francisco, os dois países realizaram os primeiros gestos de aproximação em meio século com a libertação de prisioneiros que ambos os países mantinham do outro. Mas o fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos EUA a Cuba depende do Congresso dos EUA, que precisa votar o fim das leis Torricelli e Helms-Burton. Todavia, os que defendem o bloqueio são a maioria das duas casas do Congresso.

O Estado imperialista é integrado por distintas frações da burguesia estadunidense. Por isso, apesar de sua pequeña importancia social, existem minorias contrarevolucionarias, como o sionismo (não confundir mecanicamente com o judaísmo) e os gusanos burgueses nos EUA que possuem representação deformadamente maximizada na política imperialista. Por exemplo, os negros são 13% da população estadunidense, mas todo policial tem o direito de estrangular e executar um negro pobre desarmado, segundo a justiça da mais rica cidade dos EUA. Os sionistas e os gusanos são sócios dos 1% mais ricos, mas assim como o sionistas, os gusanos podem impor sua orientação a Casa Branca em determinadas questões decisivas a seus interesses, por serem a vanguarda e justificativa da política contrarrevolucionária contra o Estado proletário nos EUA. Portanto, a derrubada das leis do bloqueio por parte do legislativo imperialista não será possível enquanto a burguesia gusana for funcional a direita republicana. Todavia, não nos resta dúvida que foram as necessidades maiores do conjunto do imperialismo por conter a influência da Rússia e da China sobre a América Latina que se impuseram sobre o Executivo para que Obama conciliasse esse acordo. 

Assim como a Síria, regiões da Ucrânia e em menor medida todo o mundo semicolonial, foi a vez de Cuba tirar proveito da nova correlação de forças mundiais criada após a crise de 2008 e a ascensão do bloco de países nucleados em torno da China e da Rússia sobre o declínio do imperialismo estadunidense.

A EXCEPCIONALIDADE CUBANA

A revolução cubana marcou um giro na história do século XX na América Latina. Além de derrotar uma ditadura pró-EUA nas barbas do Tio Sam, pela primeira vez no hemisfério ocidental o capitalismo foi expropriado. Isto possibilitou que uma pequena ilha com uma dezena de milhões de habitantes deixasse de ser uma colônia agrícola e degradada dos EUA para brindar sua população e o mundo com conquistas inéditas como a eliminação da fome, da miséria, do analfabetismo [ 1 ], um sistema educacional e outro de saúde cujos médicos e avanços são exportados para o resto da humanidade.

Mas Cuba não tornou-se um Estado proletário com a derrubada do ditador Fulgêncio Batista e a tomada do poder pelo Exército Guerrilheiro do Movimento 26 de Julho, em 1959. O processo revolucionário a princípio não tinha uma estratégia socialista. Seu objetivo era a realização de tarefas democráticas capitalistas como o fim do regime ditatorial e a Reforma Agrária.

Mas, em meio à guerra fria contra a URSS, o processo revolucionário acentuou as contradições entra a pequena ilha e o imperialismo. Foi só quando o imperialismo tentou invadir a ilha, através da Baía dos Porcos, em abril de 1960, para derrotar o novo regime que a direção do movimento revolucionário de Castro e Che se viu obrigada a expropriar as multinacionais e ao conjunto da burguesia cubana que foge em massa para a Flórida. A partir de então, os gusanos (ratos), como ficaram conhecidos, integraram-se organicamente ao imperialismo e passam a justificar e influir na política dos EUA em relação a Cuba.

Realizava-se mais uma vez e de forma concreta uma possibilidade teórica que Trotsky cogitara no Programa de Transição:

“É entretanto, impossível negar categórica e antecipadamente a possibilidade teórica de que, sob a influência de uma combinação de circunstâncias excepcionais (guerra, derrota, quebra financeira, ofensiva revolucionária das massas etc.), os partidos pequeno-burgueses, incluídos aí os stalinistas, possam ir mais longe do que queriam no caminho da ruptura com a burguesia. Em todo caso, uma coisa está fora de dúvida: se mesmo esta variante pouco provável se realizasse um dia em algum lugar, e um "Governo operário e camponês", no sentido acima indicado, se estabelecesse de fato, ele somente representaria um curto episódio em direção à ditadura do proletariado.” [ 2 ]

No caso cubano, o “curto episódio” durou entre 1959 e 1961. A direção M-26-7 tomou empiricamente medidas revolucionárias, mas quase sempre sob pressão imperialista. O próprio Che, que historicamente representou a ala mais internacionalista do governo cubano, reconhece que a radicalização da revolução foi mais condicionada pela pressão imperialista que pelas convicções socialistas de seus dirigentes:

“o que temos pela frente depende muito dos EUA. Com a exceção da nossa reforma agrária, que o povo de Cuba desejava desde o início, todas as nossas medidas radicais foram uma resposta direta às agressões dos poderosos monopólios, dos quais nosso país é o principal expoente. A pressão dos EUA sobre Cuba fez necessária a ‘radicalização’ da revolução. Para saber aonde chegará Cuba, poderá se deduzir da resposta de onde se propõe chegar os EUA” (La Nación, 09/06/1961).

A revolução cubana, que nunca teve um partido revolucionário em sua direção, burocratizou-se pelas suas próprias limitações internas. Este processo de burocratização agravou-se quando a frágil ilha proletária precisou recorrer da ajuda material da burocracia stalinista da URSS. Mas, logo a princípio, a política de “convivência pacífica” do stalinismo mostrou a jovem direção do Estado cubano o quanto seus aliados russos eram pouco confiáveis. Che desiludiu-se com o governo da URSS durante a crise dos mísseis, em 1962, porque se sentiu ‘traído’ por Moscou que retirou seu armamento de Cuba sem avisar ao governo cubano, capitulando as pressões dos EUA.

O BLOQUEIO OBRIGOU A BUROCRACIA A
SOBREVIVER AO FIM DA URSS NA PRESERVAÇÃO
DO ESTADO PROLETÁRIO CUBANO

A política de isolamento e bloqueio imposto pelo imperialismo a partir de 1962 passa a exercer uma poderosa pressão contrarrevolucionaria estabelecendo por décadas uma condição excepcional que contraditoriamente forçou a direção castrista a defender as novas formas e relações de propriedade estabelecidos pela expropriação da burguesia e do imperialismo.

Para nós somente a dialética desta excepcionalidade explica como sendo um Estado proletário mais frágil em relação a URSS e a China, por exemplo, e como por um longo tempo dependendo destes “mega Estados operários”, Cuba conseguiu sobreviver ao fim de seus mantenedores.

Os elementos destas contradições se apoiam nas seguintes características

1)        Cuba é um Estado proletário que não se formou a partir de operários industriais;
2)        É o Estado proletário geograficamente mais próximo do núcleo duro do imperialismo mundial;
3)        É economicamente o mais frágil e quando caiu a URSS foi o que mais se debilitou;
4)        Proporcionalmente a sua fragilidade Cuba fez o maior esforço internacionalista tanto na África como na América Latina, sem obter nenhum lucro estratégico imediato por este esforço, mas usando-o como elemento de resistência contra a pressão do imperialismo.
5)        Para influir nos movimentos de massa na America Latina a burocracia castrista precisou abandonar em parte o nacionalismo das burocracias estalinistas;
6)        O papel da burguesia gusana, como componente orgânico do imperialismo, é desproporcional a seu peso econômico como fração burguesa.
7)        Sendo assim, dentre todos os estados operários o castrismo foi a direção burocrática que mais teve que se confrontar com o imperialismo e que teve que apoiar-se nas massas pela ameaça do imperialismo.

De certo modo e até agora, estas razões excepcionais, sobretudo pelo bloqueio imposto por mais de meio século, impediram que em Cuba e na Coreia do Norte, os processos de restauração capitalista se desenvolvessem de forma gradual e pacífica (como na China ou Vietnã), devido a própria fragilidade destes Estados Proletários frente ao imperialismo e suas respectivas burguesias "gusanas" de Miami ou da Coreia do Sul. Nestes casos, a restauração do capitalismo só poderia ocorrer através de uma guerra civil.

A NOVA GUERRA FRIA COMO ELEMENTO DETERMINANTE
PARA OBRIGAR AO IMPERIALISMO A CONCERTAR
O NOVO ACORDO EUA - CUBA

Todavia, a nova guerra fria com o avanço histórico e inédito da influência da China e da Rússia sobre o conjunto da América Latina, favoreceram a ala do imperialismo menos influenciada pela política de isolamento reivindicada pela burguesia gusana para buscar a via da cooptação, abrindo espaço para o atual acordo EUA-Cuba, que todavia ainda mantem o essencial da política de bloqueio econômico e que dificilmente será revisto, uma vez que precisa da aprovação do Congresso onde cresce a influência republicana a cada eleição.

O discurso de Obama é bastante esclarecedor para anunciar inesperadamente:

“a mais significativa mudança em nossa política em mais de 50 anos, vamos acabar com uma abordagem ultrapassada que, durante décadas, não conseguiu impulsionar nossos interesses”.[ 3 ]

Os interesses eram e são a restauração capitalista em Cuba, que agora serão favorecidos pelo aumento do fluxo de capitais entre os dois países, mas também, tais interesses se combinam com a necessidade de conter o avanço do bloco capitalista eurásico rival, tentando atenuar o isolamento que o próprio imperialismo se meteu.

O mandatário estadunidense relembra que “a relação entre nossos países desenvolveu-se sobre o pano de fundo da Guerra Fria e da oposição firme da América ao comunismo”.

Durante aquele conflito

“orgulhosamente, os Estados Unidos apoiaram a democracia e os direitos humanos em Cuba ao longo destas cinco décadas. Fizemo-lo principalmente por meio de políticas que visam a isolar a ilha, impedindo a viagem mais básica e o comércio que os americanos podem desfrutar em qualquer outro lugar. E, embora esta política estivesse enraizada na melhor das intenções, nenhuma outra nação se junta a nós na imposição dessas sanções, e isso teve pouco efeito para além do fornecimento ao governo cubano de uma justificativa para as restrições a seu povo. Hoje, Cuba ainda é governada pelos Castro e pelo Partido Comunista, que chegaram ao poder há meio século.

Enquanto

“há mais de 35 anos, temos tido relações com a China – um país muito maior também governado por um Partido Comunista. Quase duas décadas atrás, restabelecemos relações com o Vietnã, onde se travou uma guerra que custou mais vidas americanas do que qualquer confronto da Guerra Fria.”

Ou seja, o balanço que a Casa Branca faz a tática que deu certo foi a da cooptação e não a do bloqueio.

Contraditoriamente foi vencida a guerra fria anterior, mas nem assim foi restaurado o capitalismo em Cuba, graças a situação criada pelos próprios EUA. Então, diante da nova guerra fria em que os EUA estão perdendo terreno no continente e no mundo é necessária uma nova tática para Cuba, uma vez que, como ele destaca “esses 50 anos mostraram que o isolamento não funcionou, é tempo de outra atitude”.

A tendência de mudança dos EUA frente a Cuba deve-se essencialmente a alteração da conjuntura mundial após a crise de 2007-2008, ao fato de que o MERCOSUL, a UNASUL e o CELAC deixaram de fora aos EUA e ao Canadá. Estes países ficaram de fora da América Latina e também do Caribe. O CELAC estabeleceu acordos com a China em reuniões presididas por Cuba.

O acordo de troca de prisioneiros e favorecimento do intercambio turístico agora realizado corresponde a uma quarta etapa vivida pela ilha desde a crise dos balseiros no início da década de 1990.

A primeira foi quando Cuba, que sofreu mais com o bloqueio imperialista após o fim da URSS, havia logrado atenuar o cerco em favor sobretudo do imperialismo europeu, através da interferência do vaticano já desde João Paulo II.

A segunda etapa desde processo foi possibilitada pela onda populista capitaneada pela Venezuela de Chavez na primeira década deste século que intercambiou petróleo por serviços de saúde cubanos.

A terceira onda deste processo ocorreu após a crise de 2008 cujo epicentro foi os EUA. O porto de Mariel Fruto é fruto desta terceira etapa. Este projeto ampliará enormemente as vantagens do bloco eurásico e sobretudo de burguesias como a brasileira na disputa do comercio caribenho. Este porto, combinado com o novo canal Atlântico-Pacífico via a Nicarágua a ser construído pela China e a refinaria de Pasadena, comprada pela Petrobrás, fazem parte de uma ofensiva econômica estrutural do bloco eurásico sobre o decadente EUA e tem tirado o sono do grande capital e da reação de direita continental.

Estas etapas se confirmam na atual recuperação econômica cubana

 “Desde el año 2003 el PIB ha crecido continuadamente hasta la actualidad según los informes de ECLAC. En el 2006 la economía creció un 12,6%, siendo el mayor crecimiento de América Latina según la Cepal ese año. Creció un 7,6% en el año 2007 con respecto al año anterior. Durante el año 2009 ECLAC estimó un incremento interanual del PIB del 1% con respecto al año 2008 (a pesar de la Crisis bursátil de enero de 2008 de afectación internacional)” [ 4 ]

Os EUA necessitam urgentemente e desesperadamente recompor o "panamericanismo" para blindadar as américas frente a Rússia e China. O que mais a Casa Branca teme é que os dois países eurásicos armem Cuba como os EUA fazem em nas fronteiras da Rússia e China, detonando assim uma nova crise dos mísseis.

A nova "abertura" frente a Cuba era imprescindível para a recomposição futura do mitológico "panamericanismo". Mas além de tentar retomar sua influência a partir do reestabelecimento das relações com seu pior adversário no continente, simultaneamente enquanto aprofunda as sanções contra a Rússia, os EUA sabem que não existe “panamaericanismo” sem o Brasil, assim que seguirá crescendo o processo golpista contra o governo do PT, anfitrião dos Brics no continente, para assegurar que o Brasil estará “seguro" contra a crescente influência do capitalismo eurásico.

A Argentina, por sua base estrutural possui uma economia não complementaria com a dos EUA e pior, em alguns commodities como nos cereais é competitiva com o imperialismo. O país, mais uma vez pode ser o elo mais débil do panamaricanismo e isso explica os esforços inéditos do núcleo russo-chino avançando sobre a Argentina não apenas no sentido econômico e geoestratégico.

O fim do bloqueio desatará tendencias restauracionistas represadas. Cuba pode inicialmente se aproveitar do desespero imperialista por não perder seu quintal, mas o capitalismo ianque não poupará esforços para devorar a Ilha e os novos ricos serão egressos da burocracia do PC, como já ocorreu nos Estados operários onde o capitalismo foi restaurado. Neste sentido cada vez maiores setores da burocracia anseiam em restaurar o capitalismo em Cuba como foi realizado no Vietnã, ou em um regime burguês ou em uma nova Venezuela.

O FIM DO BLOQUEIO, O CURSO RESTAURACIONISTA
E A REVOGAÇÃO DAS MEDIDAS ESPECIAIS

Acreditamos que é progressivo que o Estado proletário se beneficie da nova guerra fria para acabar com todas as represálias imputadas a ele pela audácia de ter expropriado as multinacionais e a burguesia vassala. Defendemos que o bloqueio deva ser eliminado incondicionalmente. Todavia, também acreditamos que a burocracia almeja converter Cuba em uma espécie de Vietnã caribenho, a medida que for suspenso o bloqueio imperialista, ou antes, se possível, ou seja, a burocracia se aproveita da conjuntura em favor da política restauracionista e não do socialismo.

Para que o fim do bloqueio tragicomicamente não resulte no fim do Estado proletário denunciamos toda a diplomacia secreta entre a burocracia e o imperialismo ou qualquer nação capitalista. Lutamos pela revogação progressiva das as medidas do chamado “período especial” tomadas emergencialmente a partir da dissolução da URSS em 1991 e do recrudescimento do embargo pelos EUA em 1992, assim como de todas as medidas posteriores que flexibilizaram a planificação da economia, o monopólio do comercio exterior e a estatização dos meios de produção.

Para começar, reivindicamos a volta do regime de pleno emprego e a revogação de todas as demissões; da lei dos investimentos estrangeiros de 1995, o reestebelecimento do pleno monopólio do comercio exterior, a estatização plena de todas as empresas mistas e da produção. Em outras palavras, se as coisas estão melhorando é preciso revogar as medidas que flexibilizaram o Estado proletário desde a década de 1990 do século passado. Todo esse programa deve estar aliado o combate às ambições e privilégios da burocracia, ou seja, a luta pela revolução política e pela instituição da democracia proletária em Cuba.

PELA REVOLUÇÃO POLÍTICA
CONTRA A RESTAURAÇÃO CAPITALISTA!

A luta pela revolução política na ilha assume caráter permanente, combate as medidas do governo castrista que conspiram contra as formas e relações de propriedade criadas pela expropriação do imperialismo e da burguesia cubana, enquanto simultaneamente deve impulsionar a edificação de comitês populares, de trabalhadores, camponeses e cooperados. Devemos lutar contra toda diplomacia secreta, tudo deve ser submetido ao debate, retificação e ratificação pela população cubana organizada. Não a devolução da propriedade aos gusanos.

Acreditamos que só seria possível uma revolução política em Cuba se houver um processo revolucionário no Continente. Sem isso, qualquer tentativa de revolução política em Cuba não teria como sobreviver.

O que foi expropriado deve permanecer estatal e sob o controle democrático dos conselhos de trabalhadores, produtores e consumidores. A primeira prioridade do Estado é garantir a saúde e a alimentação para o povo. Nenhum privilégio para a burocracia e para os turistas em prejuízo para as massas trabalhadoras. Abaixo com o separatismo turístico, pelo livre acesso de todos os cubanos para todos os hotéis, praias, balneários utilizado exclusivamente por turistas e que tudo seja pago em pesos. Derrotar a burocracia na luta pela democracia proletária e pela luta pela igualdade contra os privilégios.

É necessário construir os tribunais operários para investigar e condenar a corrupção, o mercado negro e os novos ricos. Em defesa do direito de greve e de sindicalização como parte da luta pela independência política contra a burocracia castrista, o imperialismo e suas ONGs contrarrevolucionárias e o Vaticano. Controle proletário da indústria e do conjunto da economia bem como sobre os acordos comerciais e todo o comercio estrangeiro, com a Europa, com a China e todo o bloco Eurásico e os países capitalistas latino americanos. Controle da contabilidade e da administração pela inspeção operária, com executivos de mandatos revogáveis eleitos em assembleia por local de trabalho. Somente os trabalhadores devem decidir como, quanto e o quê deve ser produzido e distribuído, bem como os salários e os ritmos da produção, assim devem combater as demissões em massa, a privatização das empresas estatais e os cortes nos serviços sociais do Estado.

Se como demonstrou a história do século XX a “teoria” antimarxista do “socialismo em um só país” reconduz os Estados operários a restauração capitalista, a continuar seguindo os preceitos stalinistas, o “socialismo” em meio país ou em uma ilha não terão destino melhor.

Nos opomos a criação de toda e qualquer partido ou organização que se oponha ao Estado proletário e a ditadura do proletariado e defendemos a criação de um partido trotskista revolucionário em Cuba e da instauração da democracia proletária na ilha. A restauração capitalista não é um fato consumado em Cuba e somente a luta revolucionária das massas latino americanas contra toda ofensiva restauracionista interna ou externa poderá derrotá-la.

28 de dezembro de 2014

Notas

2. http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1938/programa/cap02.htm#13
3. http://wp.clicrbs.com.br/olharglobal/2014/12/18/e-a-coisa-certa-a-fazer-a-integra-do-discurso-de-obama-sobre-cuba/?topo=13,1,1,,,13

sábado, 27 de dezembro de 2014

2014 pra conta... Que venha um 2015 de vitórias!!!

                                                                                      por Mário Medina

2014 não foi propriamente um ano de bons auspícios pra classe trabalhadora brasileira. Ao contrário de 2013, que surpreendeu a todos com as jornadas de Junho, esse ano transcorreu sem grandes sublevações populares. Não que tenha sido um ano sem lutas, muito pelo contrário, mas as multidões não tomaram mais as ruas. 2014 foi o ano das vanguardas por assim dizer, protagonizado pelos sindicatos mais avançados e organizados, pelas categorias notoriamente mais conscientizadas e pelos movimentos sociais mais progressistas, tais como o MTST nos grandes centros urbanos, com a destacada liderança de Guilherme Boulos, que apesar de combativo militante da esquerda não é o quadro mais indicado pra comandar a revolução brasileira.
Ter negociado com Dilma às vésperas da copa do mundo, por ocasião da ocupação Copa do Povo, num terreno muito próximo ao estádio de abertura do evento, é compreensível à medida que notamos o ganho substancial de seu movimento, que não se manifestou nas portas do Itaquerão em troca de um certo número de moradias populares. Mas precisamos pontuar: foi uma manobra movimentista, sem levar em consideração o conjunto das lutas contra o extorsivo megaevento bancado por Dilma e o PT.  
A crise de direção do proletariado segue sendo a grande barreira no desenvolvimento e acirramento das lutas de classe no Brasil, lutas estas que ficaram muito bem evidenciadas nas eleições, com a classe média mais reacionária e a pequena burguesia, lideradas por mídias conservadoras como TV Globo e revista Veja, promovendo um tremendo estardalhaço contra a continuação do PT no governo, como se este governo fosse uma coisa muito progressista,  subserviente aos países não alinhados e a Cuba ``comunista``. Ora, vejam como é patética a nossa elite.
Só uma elite anencéfala ou muito mal intencionada pra defender posicionamentos tão medíocres. Coisas como falar que o PT é o partido mais corrupto da história do país,  desconsiderando todas as falcatruas perpetradas pelos velhos partidos da ordem quando estes eram governo; ou que Dilma construiu o porto de Mariel, na ilha cubana, por vínculos ideológicos com o suposto regime comunista, desconsiderando completamente os reais motivos da parceria, a saber, realizar serviço de infraestrutura para capitalistas brasileiros que mantém investimentos na ilha. A reaproximação diplomática dos EUA com Cuba, acenando para o fim do embargo, é mais um detalhe a desmentir os reacionários de carteirinha que insistem no falso argumento.
Pois bem, essa elite ideológica, digo ideológica porque a elite econômica mesmo está muito satisfeita com a gerência de Dilma, essa elite saiu às ruas como se fosse herdeira dos gritos de Junho pra defender a saída do PT por vias democráticas ou por golpe mesmo. Queriam a deposição do governo a qualquer custo. Estavam com a faca entre os dentes os fascistoides avoados. Curioso que na semana em que colocaram cerca de 10 mil pessoas na rua pedindo o impeachment ou a famigerada intervenção militar, nesta mesma semana a esquerda colocou 20 mil na Paulista gritando: `` Quem não pode com formiga, não atiça o formigueiro! `` Desse jeito os pretensos golpistas saem com o rabo entre as pernas. Quem vai bancar uma derrubada de governo nestes moldes? Quem iria comprar essa briga? A um modesto chamado do MST, milhões sairiam as ruas pra defender o governo democraticamente eleito contra as investidas da direita.
Existem aqui duas considerações a serem feitas acerca do imbróglio:

   1-     Se a direção do MST não fosse tão governista, se, de fato, eles quisessem agitar suas bases para impor a reforma agrária na marra, varrer o latifúndio e o agronegócio, teriam força pra isso. Mas a direção pelega é uma força de contenção que atrasa o desenvolvimento das lutas, atrasa tarefas democráticas e atrasa tarefas revolucionárias. A base do MST é o maior patrimônio do movimento, composta de gente aguerrida, mas que é manobrada pra não revelar todo seu potencial revolucionário. Do mesmo modo funciona os movimentos urbanos e a esquerda em geral. Os partidos da esquerda não tem feito por merecer o lugar que ocupam. Estão quase todos, pra não dizer todos mesmo, encastelados sobremaneira em suas estruturas burocráticas, aparelhados em seus ``feudos`` sindicais.

    2-    Esses movimentos de direita e extrema direita que colocam as asinhas de fora por aqui, não são exclusividade da nossa conjuntura nacional. A Europa, por exemplo, tem sofrido duras intervenções de grupelhos fascistas e neonazistas, que surfam na onda das crises financeiras e das soluções capitalistas de medidas de austeridade impostas às classes populares. Estes grupos surfam na xenofobia e na intolerância, tudo muito parecido ao que acontece no Brasil, com a perseguição aos nordestinos e aos imigrantes de países ainda mais pobres que se refugiam da miséria de outros redutos semi-coloniais. Mas na Europa esses grupos fascistas tem alcançado certo status político, com a formação de partidos e a conquista de espaços consideráveis no parlamento.  É aquela historia do `` farinha pouca meu pirão primeiro ``. As populações nativas não querem ver seus direitos cassados e convergem sua revolta contra grupos mais vulneráveis vindos de fora. Tudo muito lamentável.

Cenário conturbado

É esse o triste cenário da classe trabalhadora brasileira e mundial, com os governos destinando quantias vultosíssimas para o mercado financeiro em detrimento dos direitos sociais conquistados a duras penas em outros momentos.
Dilma já prepara o terreno pra medidas antipopulares que vão deixar desconcertados até os petistas mais fanáticos. Vem aí o fim do seguro desemprego, fim do auxílio- doença, cortes de pensões, etc... Com muita apreensão pra este etcetera...
Mas estamos aqui trabalhando pra que 2015 seja um ano mais produtivo do que 2014. A julgar por nossos esforços, é capaz que avancemos. 2015 será ano de duros combates. O novo ministério de Dilma está aí pra mostrar isso. A direita está se locupletando com Dilma, com Katia ``motoserra`` Abreu, Kassab, ministro que é bispo da Universal, etc.
No período eleitoral teve muito petista saindo do armário pra pedir voto em Dilma, sobretudo no segundo turno. Foi uma avalanche de gente pintando Dilma de ex-guerrilheira progressista e combativa. Teve ingenuidade mas também teve opção pelo menos pior, com gente ate muito sã ponderando a respeito da conformação dos BRICS, argumentando que a vitoria de Aécio faria o Brasil dividir os Brics pra aderir descaradamente ao imperialismo ianque, em detrimento de um pólo alternativo em torno de Rússia e China.
Pois bem, na mesma semana de sua vitoria, Dilma já aumentou os juros, desprezando toda a conversa mole da campanha. Os petistas que haviam saído do armário voltaram correndo de onde saíram. O constrangimento com a endireitada de Dilma é grande.
A solução para nossas mazelas é a unidade da esquerda e dos movimentos sociais. Estamos acompanhando com certa simpatia a conformação de um bloco de partidos e movimentos pra fazer oposição ao conservadorismo que se expressa institucionalmente no congresso mais linha dura desde 64 e do discurso reacionário dos fascistoides leitores de Veja e expectadores de Marcelo Rezende e companhia limitada.
Estaremos nas lutas em 2015, defendendo fragorosamente os direitos de nossa classe e os avanços que entendemos imprescindíveis para o crescimento e independência de nosso país.

Em unidade com os trabalhadores de todo o mundo, em defesa da revolução mundial, saudamos a todos os lutadores e desejamos boas festas e um 2015 de muitos êxitos!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

VOCÊ SE LEMBRA?


                                                                                             por Beth Monteiro

Collor de Mello que, em sua campanha para presidente, em 1989, acusou Lula de querer confiscar a poupança dos brasileiros. Assim que tomou posse, sua primeira medida foi fazer exatamente isto.
Durante a campanha, Dilma acusou Marina e Aécio de pretenderem a autonomia do Banco Central e aumentar os juros. Mal saiu o resultado das eleições, confirmando sua vitória, os juros começaram a subir por determinação independente do Banco Central.
As mentiras de Collor fizeram com que seu governo desabasse em menos de dois anos. Até quando Dilma acha que pode se sustentar com tanto cinismo? Até quando o tão propalado golpe da direita vai segurar este governo?
Não é por medo de golpe da direita. Faz o que faz porque quer. Esta frase de uma militante do PT é bem esclarecedora: “... Caso a Dilma indicasse a Katia Abreu por pressão de sua base aliada, eu até entenderia, mas não. A Katia Abreu não faz parte da real politik. Foi uma escolha pessoal da Dilma e o PMDB, que não a queria, acatou.”

QUE PAÍS É ESTE?





Tânia Rego/ABr


`` O maior frigorífico do mundo pertence à burguesia de um país que não se importa que milhões de pessoas passem fome. O maior banco de fomento do mundo pertence a um país onde metade do orçamento público federal se destina ao pagamento da alta burguesia financeira. Algumas dentre as maiores construtoras do mundo fazem parte do bloco no poder de um país onde a classe trabalhadora, sem esgoto e saneamento, e sem transporte coletivo de qualidade, despende até quatro horas diárias se deslocando entre o espaço de trabalho e de moradia em suas metrópoles.``

                                                                                     Beth Monteiro