Nota oficial da RPR sobre o segundo turno da eleição presidencial
10 de Outubro de 2014
Impressionante notar como a realidade histórica é dinâmica. A duas, três
semanas atrás, todos analistas políticos mais sérios e razoáveis apontavam para
um segundo turno entre Dilma e Marina, com vitória certa da segunda candidata.
Marina tinha a faca e o queijo na mão, e deixou escapar a presidência. Verdade
que o PT foi muito eficiente em sua contra-campanha, fazendo com que Marina
viesse a ter um índice de rejeição ainda maior que o de Dilma, mas devemos
dizer: Marina por si só se queimou. De contradição em contradição, de promessa
desesperada em promessa desesperada, ela mostrou ao eleitor a fragilidade de
sua candidatura, a farsa que mantinha por detrás do discurso de uma ''nova
política''.
A nova política de Marina é a velha política dos tucanos, travestida de
um discurso verde bem incipiente. Pra chegar ao poder, Marina abriu mão de
várias pautas de seu programa inicial, afagou ''Malafaias'' e homens do
agronegócio, pra não falar de sua relação com a acionista Neca Setúbal e o
especulador George Soros, da Monsanto.
A neotucana Marina, não por acaso, se abrigou em um velho partido da
ordem que agora faz coro para Aécio. Ontem, em reunião de sua executiva
nacional, a Rede Sustentabilidade aprovou definição de nenhum voto em Dilma,
liberando seus filiados ao voto em Aécio.
Essa nova política não tem nada de sustentável. Vigora aqui a mesma lógica
dos financiamentos de banqueiros e empreiteiras, de coligação com partidos da
direita e da extrema-direita, de aproximação com setores ultra-conservadores e
intolerantes.
Dilma, por sua vez, é como o sujo que fala do mal-lavado. O PT é um dos
partidos com mais financiamentos de empreiteiras; tem uma relação muito
tranquila com a bancada ruralista, uma relação cada vez mais estável com a
bancada evangélica; segue implementando a mesma política econômica de seus
antecessores, com juros altos, salários defasados, superávit primário pro
pagamento de juros e amortizações da dívida, o que consome mais de 40% do
orçamento da união, etc.
O que esperar de um, governo desse? Dilma e o PT são progressistas só no
discurso. Na prática, aplicam a mesma política de sempre. É o mesmo entreguismo
de sempre.
A diferença está na vontade das elites mais tradicionais, que, embora
estejam ganhando com Dilma, preferem ganhar com Aécio e o PSDB, que tem um um
posicionamento abertamente neoliberal, privatista e imperialista.
Não vemos diferença de agendas entre os candidatos. Uma parcela razoável
da esquerda prefere dar voto útil em Dilma contra Aécio, alegando um iminente
risco de retrocesso caso os tucanos voltem ao poder. Não é o que pensamos.
Avaliamos que os poderosos que se beneficiam do governo Dilma seriam os mesmos
poderosos que se beneficiariam numa suposta gestão tucana. Porque o PT chegou
no poder mas continuou governando para a mesma minoritária e privilegiada
camada da população. Uma alteração de gestão seria apenas um revezamento de
poder. É como trocar seis por meia dúzia. No caso, troca-se de grupo político
na gerência de plantão do capital e da ditadura de classe da burguesia;
troca-se um governo de frente popular por um governo tradicional da burguesia.
Complicado de nossa parte chamar voto em Dilma. O que vamos falar às
nossas bases no primeiro semestre de 2015, quando Dilma começar a atacar os
direitos da classe trabalhadora para garantir os ajustes fiscais que o mercado
exige? Seja de Dilma ou de Aécio, do PT ou do PSDB, o próximo governo será um
governo dos ricos, dos especuladores, dos rentistas.
Não podemos nutrir nenhuma expectativa no PT. Esse partido já se
degenerou e já traiu os trabalhadores de todas as formas possíveis. Caso
eleito, no ano que vem aumentará os preços e estagnará os salários.
Não podemos criar ilusões nas massas operárias. Não podemos optar por um
suposto mal menor. É preciso fazer política revolucionária com responsabilidade
e coerência.
A campanha de Luciana Genro, por exemplo, apesar de muito esclarecedora
aos denunciar os partidos da ordem, falhou ao fazer crer que seria possível
levar o Psol ao segundo turno, ou, ainda, que seria possível vencer e ter
governabilidade. Mesmo Zé Maria passava essa impressão em suas entrevistas. Rui
Pimenta e Mauro Iasi foram mais educativos nesse sentido. Em suas falas, era
possível notar que uma candidatura de esquerda revolucionária só faz sentido se
existir para dialogar e organizar a classe para as lutas que virão.
Nós, da RPR, fizemos uma campanha revolucionária, apresentando pautas
transitórias ao socialismo, evidenciando, para os nossos contatos, que não é
possível mudar o capitalismo por dentro, mas que temos que vislumbrar uma
ruptura com o atual sistema se de fato quisermos um mundo novo, de igualdade e
justiça.
Pode parecer algo abstrato, de nossa parte, falar em socialismo,
revolução, justiça social, etc. Para sermos mais pragmáticos, podemos afirmar
que nenhuma das candidaturas desse segundo turno, nem mesmo a candidatura do
PT, expressam qualquer ponto que represente ganhos efetivos pra classe
trabalhadora. Não seríamos sectários ou puristas ao ponto de nos agarrar à
princípios sem levar em consideração a qualidade de vida da população e os
direitos civis mais elementares. Mas não é isso que está em jogo aqui. Quem
dera pudéssemos barganhar melhores condições de vida, melhores salários,
redução dos aluguéis, políticas públicas de transporte, saneamento básico, etc.
Mas, verdade seja dita, o PT está rendido para o sistema. Só nos resta o
voto nulo. Vamos nos abster dessa escolha entre o ruim e o menos pior.