por Mário Medina
2014 não foi propriamente um ano de bons auspícios pra
classe trabalhadora brasileira. Ao contrário de 2013, que surpreendeu a todos
com as jornadas de Junho, esse ano transcorreu sem grandes sublevações
populares. Não que tenha sido um ano sem lutas, muito pelo contrário, mas as
multidões não tomaram mais as ruas. 2014 foi o ano das vanguardas por assim
dizer, protagonizado pelos sindicatos mais avançados e organizados, pelas
categorias notoriamente mais conscientizadas e pelos movimentos sociais mais
progressistas, tais como o MTST nos grandes centros urbanos, com a destacada
liderança de Guilherme Boulos, que apesar de combativo militante da esquerda
não é o quadro mais indicado pra comandar a revolução brasileira.
Ter negociado com Dilma às vésperas da copa do mundo, por
ocasião da ocupação Copa do Povo, num terreno muito próximo ao estádio de
abertura do evento, é compreensível à medida que notamos o ganho substancial
de seu movimento, que não se manifestou nas portas do Itaquerão em troca de um
certo número de moradias populares. Mas precisamos pontuar: foi uma manobra
movimentista, sem levar em consideração o conjunto das lutas contra o extorsivo
megaevento bancado por Dilma e o PT.
A crise de direção do proletariado segue sendo a grande
barreira no desenvolvimento e acirramento das lutas de classe no Brasil, lutas
estas que ficaram muito bem evidenciadas nas eleições, com a classe média mais
reacionária e a pequena burguesia, lideradas por mídias conservadoras como TV
Globo e revista Veja, promovendo um tremendo estardalhaço contra a continuação
do PT no governo, como se este governo fosse uma coisa muito progressista, subserviente aos países não alinhados e a
Cuba ``comunista``. Ora, vejam como é patética a nossa elite.
Só uma elite anencéfala ou muito mal intencionada pra
defender posicionamentos tão medíocres. Coisas como falar que o PT é o partido
mais corrupto da história do país, desconsiderando todas as falcatruas
perpetradas pelos velhos partidos da ordem quando estes eram governo; ou que
Dilma construiu o porto de Mariel, na ilha cubana, por vínculos ideológicos com
o suposto regime comunista, desconsiderando completamente os reais motivos da
parceria, a saber, realizar serviço de infraestrutura para capitalistas
brasileiros que mantém investimentos na ilha. A reaproximação diplomática dos
EUA com Cuba, acenando para o fim do embargo, é mais um detalhe a desmentir os
reacionários de carteirinha que insistem no falso argumento.
Pois bem, essa elite ideológica, digo ideológica porque a
elite econômica mesmo está muito satisfeita com a gerência de Dilma, essa elite
saiu às ruas como se fosse herdeira dos gritos de Junho pra defender a saída do
PT por vias democráticas ou por golpe mesmo. Queriam a deposição do governo a
qualquer custo. Estavam com a faca entre os dentes os fascistoides avoados.
Curioso que na semana em que colocaram cerca de 10 mil pessoas na rua pedindo o impeachment ou a famigerada intervenção militar, nesta mesma semana a
esquerda colocou 20 mil na Paulista gritando: `` Quem não pode com formiga, não atiça o
formigueiro! `` Desse jeito os pretensos golpistas saem com o rabo entre as
pernas. Quem vai bancar uma derrubada de governo nestes moldes? Quem iria
comprar essa briga? A um modesto chamado do MST, milhões sairiam as ruas pra
defender o governo democraticamente eleito contra as investidas da direita.
Existem aqui duas considerações a serem feitas acerca do
imbróglio:
1-
Se a direção do MST não fosse tão governista,
se, de fato, eles quisessem agitar suas bases para impor a reforma agrária na
marra, varrer o latifúndio e o agronegócio, teriam força pra isso. Mas a
direção pelega é uma força de contenção que atrasa o desenvolvimento das
lutas, atrasa tarefas democráticas e atrasa tarefas revolucionárias. A base do
MST é o maior patrimônio do movimento, composta de gente aguerrida, mas que é manobrada pra não revelar todo seu potencial revolucionário. Do mesmo modo
funciona os movimentos urbanos e a esquerda em geral. Os partidos da esquerda não
tem feito por merecer o lugar que ocupam. Estão quase todos, pra não dizer todos mesmo,
encastelados sobremaneira em suas estruturas burocráticas, aparelhados em seus
``feudos`` sindicais.
2- Esses movimentos de direita e extrema direita
que colocam as asinhas de fora por aqui, não são exclusividade da nossa
conjuntura nacional. A Europa, por exemplo, tem sofrido duras intervenções de
grupelhos fascistas e neonazistas, que surfam na onda das crises financeiras e
das soluções capitalistas de medidas de austeridade impostas às classes
populares. Estes grupos surfam na xenofobia e na intolerância, tudo muito
parecido ao que acontece no Brasil, com a perseguição aos nordestinos e aos
imigrantes de países ainda mais pobres que se refugiam da miséria de outros
redutos semi-coloniais. Mas na Europa esses grupos fascistas tem alcançado
certo status político, com a formação de partidos e a conquista de espaços
consideráveis no parlamento. É aquela
historia do `` farinha pouca meu pirão primeiro ``. As populações nativas não querem
ver seus direitos cassados e convergem sua revolta contra grupos mais
vulneráveis vindos de fora. Tudo muito lamentável.
Cenário conturbado
É esse o triste cenário da classe trabalhadora brasileira e
mundial, com os governos destinando quantias vultosíssimas para o mercado
financeiro em detrimento dos direitos sociais conquistados a duras penas em
outros momentos.
Dilma já prepara o terreno pra medidas antipopulares que vão
deixar desconcertados até os petistas mais fanáticos. Vem aí o fim do seguro
desemprego, fim do auxílio- doença, cortes de pensões, etc... Com muita
apreensão pra este etcetera...
Mas estamos aqui trabalhando pra que 2015 seja um ano mais
produtivo do que 2014. A julgar por nossos esforços, é capaz que avancemos.
2015 será ano de duros combates. O novo ministério de Dilma está aí pra mostrar
isso. A direita está se locupletando com Dilma, com Katia ``motoserra`` Abreu,
Kassab, ministro que é bispo da Universal, etc.
No período eleitoral teve muito petista saindo do armário
pra pedir voto em Dilma, sobretudo no segundo turno. Foi uma avalanche de gente
pintando Dilma de ex-guerrilheira progressista e combativa. Teve ingenuidade
mas também teve opção pelo menos pior, com gente ate muito sã ponderando a
respeito da conformação dos BRICS, argumentando que a vitoria de Aécio faria o
Brasil dividir os Brics pra aderir descaradamente ao imperialismo ianque, em
detrimento de um pólo alternativo em torno de Rússia e China.
Pois bem, na mesma semana de sua vitoria, Dilma já aumentou
os juros, desprezando toda a conversa mole da campanha. Os petistas que haviam
saído do armário voltaram correndo de onde saíram. O constrangimento com a
endireitada de Dilma é grande.
A solução para nossas mazelas é a unidade da esquerda e dos
movimentos sociais. Estamos acompanhando com certa simpatia a conformação de um
bloco de partidos e movimentos pra fazer oposição ao conservadorismo que se
expressa institucionalmente no congresso mais linha dura desde 64 e do
discurso reacionário dos fascistoides leitores de Veja e expectadores de
Marcelo Rezende e companhia limitada.
Estaremos nas lutas em 2015, defendendo fragorosamente os
direitos de nossa classe e os avanços que entendemos imprescindíveis para o
crescimento e independência de nosso país.
Em unidade com os trabalhadores de todo o mundo, em defesa
da revolução mundial, saudamos a todos os lutadores e desejamos boas festas e um 2015 de muitos êxitos!
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