por Mário Medina
Segunda feira passada um grupo de
médicos cubanos foi hostilizado por médicos brasileiros no
desembarque do vôo que os trouxe de Cuba para trabalharem nas
cidades pobres do Nordeste, em que médicos brasileiros se negam a
clinicar. Foi uma verdadeira demonstração de preconceito e
xenofobia, com médicos arregimentados pelo sindicato dos médicos de
Fortaleza recepcionando os colegas cubanos com xingamentos e aos
gritos de ``escravos``. E fique registrado que o sindicato mencionado
tem histórico de peleguismo e é atrelado a Unimed. Ou seja, não tem
moral alguma pra falar de ninguém.
O Conselho Federal de Medicina já
havia se posicionado contra a contratação dos médicos
estrangeiros, porque é importante pontuar que não são apenas
cubanos, mas russos, espanhóis e argentinos que estão sendo
recrutados em seus países e trazidos ao Brasil para participarem de
cursos de português e funcionamento do SUS, para, após esse período
de cursos preparatórios, se dirigirem as cidades do interior do país
onde irão atender.
O Ministério Publico do Trabalho
também se opôs ao plano do governo, que paga os salários dos
médicos cubanos ao governo da ilha, que repassa apenas parte do
dinheiro aos trabalhadores. Ou seja, a transação é feita entre
ministério da saúde e governo cubano, e apenas um parcela do
salário que caberia aos trabalhadores lhes será repassada.
Óbvio que os trabalhadores cubanos
estão sendo usurpados por seu governo. Ademais, não se sabe o que
Dilma e o PT querem com tal manobra pactuada com o regime cubano.
Todavia, não podemos aceitar que trabalhadores sejam hostilizados por
quem quer que seja, aqui ou em qualquer lugar do mundo. Trabalhadores
são trabalhadores em qualquer parte do globo, e seja no Brasil, em
Cuba, na China, onde quer que seja, contarão com nosso apoio e
solidariedade. O que deixa estarrecidos tantos brasileiros é ver que
nossos médicos ainda são tão elitistas, que não respeitam seus
colegas de profissão e se prestam a um papel tão reacionário.
Por que os médicos brasileiros não
se insurgem contra os planos de saúde que privatizam um serviço tão
essencial? Por que não se insurgem contra os monopólios da indústria
dos fármacos? Nem mesmo o governo, que precariza tanto o serviço de
saúde e que destina uma quantia pífia para a área, sofre tamanho
rechaço da categoria.
O episódio do saguão do aeroporto de Fortaleza explicita o quanto a classe medica brasileira é dominada por gente
retrógrada, preconceituosa e elitista, o quanto é atrasada e precisa
evoluir politicamente. Porque essa objeção toda a vinda dos cubanos só pode ser de origem ideológica. Nada explica tamanha fúria e
perseguição.
Curioso é que tenha que haver uma
demonstração tão explicita de idiotice dos médicos para que a
população se dê conta da classe medica que tem. Afinal, a limitação
ideológica dos médicos é patente, notória.
Um dia desses eu estava observando a
cidade através da janela de um ônibus e vi um banner de um
candidato com uma foto em que trajava um jaleco branco e um
estetoscópio envolto no pescoço. Notem o caráter simbólico que
carrega algo do tipo. Se essa moda de se gabar da profissão fosse
real, então os candidatos que são milicos empunhariam o tresoitão
pra foto de campanha, os candidatos pastores posariam com suas
bíblias em mãos, os professores afixariam quadros negros às
costas...
Por que será, por exemplo, que os
médicos se sentem desconfortáveis quando não os tratamos pelos
pronomes doutor ou senhor? A verdade é que no Brasil ainda vigora a
retrógrada lógica do senhor e do criado; uma lógica elitista que
reserva tratamento especial à profissões que são majoritariamente
ocupadas por gente oriunda de classes abastadas, porque pobre mesmo
muito dificilmente tem condições materiais de sequer estudar em um
bom cursinho para competir em condições de igualdade no vestibular
pra medicina.
Ou seja, nas coisas mais
corriqueiras e singelas podemos notar que os médicos, em sua grande
maioria, nutrem um espírito demasiadamente vanglorioso, descolado da
realidade, dos interesses da classe trabalhadora como um todo. O fato
de estudar dois anos a mais na universidade não faz de ninguém um
tipo semi-deus, não os torna uma classe de profissionais mais
valorosa do que o resto das profissões.
Todo nosso respeito aos
profissionais da saúde que honram seus diplomas, que exercem com
ética e humanidade sua profissão. Mas nos permitam essa critica que
nos parece tão pertinente e mesmo necessária, A critica precisa ser
feita!