quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Em que mundo vivem os médicos brasileiros?

por Mário Medina
Segunda feira passada um grupo de médicos cubanos foi hostilizado por médicos brasileiros no desembarque do vôo que os trouxe de Cuba para trabalharem nas cidades pobres do Nordeste, em que médicos brasileiros se negam a clinicar. Foi uma verdadeira demonstração de preconceito e xenofobia, com médicos arregimentados pelo sindicato dos médicos de Fortaleza recepcionando os colegas cubanos com xingamentos e aos gritos de ``escravos``. E fique registrado que o sindicato mencionado tem histórico de peleguismo e é atrelado a Unimed. Ou seja, não tem moral alguma pra falar de ninguém.
O Conselho Federal de Medicina já havia se posicionado contra a contratação dos médicos estrangeiros, porque é importante pontuar que não são apenas cubanos, mas russos, espanhóis e argentinos que estão sendo recrutados em seus países e trazidos ao Brasil para participarem de cursos de português e funcionamento do SUS, para, após esse período de cursos preparatórios, se dirigirem as cidades do interior do país onde irão atender.
O Ministério Publico do Trabalho também se opôs ao plano do governo, que paga os salários dos médicos cubanos ao governo da ilha, que repassa apenas parte do dinheiro aos trabalhadores. Ou seja, a transação é feita entre ministério da saúde e governo cubano, e apenas um parcela do salário que caberia aos trabalhadores lhes será repassada.
Óbvio que os trabalhadores cubanos estão sendo usurpados por seu governo. Ademais, não se sabe o que Dilma e o PT querem com tal manobra pactuada com o regime cubano. Todavia, não podemos aceitar que trabalhadores sejam hostilizados por quem quer que seja, aqui ou em qualquer lugar do mundo. Trabalhadores são trabalhadores em qualquer parte do globo, e seja no Brasil, em Cuba, na China, onde quer que seja, contarão com nosso apoio e solidariedade. O que deixa estarrecidos tantos brasileiros é ver que nossos médicos ainda são tão elitistas, que não respeitam seus colegas de profissão e se prestam a um papel tão reacionário.
Por que os médicos brasileiros não se insurgem contra os planos de saúde que privatizam um serviço tão essencial? Por que não se insurgem contra os monopólios da indústria dos fármacos? Nem mesmo o governo, que precariza tanto o serviço de saúde e que destina uma quantia pífia para a área, sofre tamanho rechaço da categoria.
O episódio do saguão do aeroporto de Fortaleza explicita o quanto a classe medica brasileira é dominada por gente retrógrada, preconceituosa e elitista, o quanto é atrasada e precisa evoluir politicamente. Porque essa objeção toda a vinda dos cubanos só pode ser de origem ideológica. Nada explica tamanha fúria e perseguição.
Curioso é que tenha que haver uma demonstração tão explicita de idiotice dos médicos para que a população se dê conta da classe medica que tem. Afinal, a limitação ideológica dos médicos é patente, notória.
Um dia desses eu estava observando a cidade através da janela de um ônibus e vi um banner de um candidato com uma foto em que trajava um jaleco branco e um estetoscópio envolto no pescoço. Notem o caráter simbólico que carrega algo do tipo. Se essa moda de se gabar da profissão fosse real, então os candidatos que são milicos empunhariam o tresoitão pra foto de campanha, os candidatos pastores posariam com suas bíblias em mãos, os professores afixariam quadros negros às costas...
Por que será, por exemplo, que os médicos se sentem desconfortáveis quando não os tratamos pelos pronomes doutor ou senhor? A verdade é que no Brasil ainda vigora a retrógrada lógica do senhor e do criado; uma lógica elitista que reserva tratamento especial à profissões que são majoritariamente ocupadas por gente oriunda de classes abastadas, porque pobre mesmo muito dificilmente tem condições materiais de sequer estudar em um bom cursinho para competir em condições de igualdade no vestibular pra medicina.
Ou seja, nas coisas mais corriqueiras e singelas podemos notar que os médicos, em sua grande maioria, nutrem um espírito demasiadamente vanglorioso, descolado da realidade, dos interesses da classe trabalhadora como um todo. O fato de estudar dois anos a mais na universidade não faz de ninguém um tipo semi-deus, não os torna uma classe de profissionais mais valorosa do que o resto das profissões.
Todo nosso respeito aos profissionais da saúde que honram seus diplomas, que exercem com ética e humanidade sua profissão. Mas nos permitam essa critica que nos parece tão pertinente e mesmo necessária, A critica precisa ser feita!


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