quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Alienação do trabalho em Lukács e Holloway

                                                                por Mário Medina

No capitalismo, a força de trabalho do proletário é uma mercadoria que
este vende ao patrão em troca de um salário, geralmente uma quantia
paga em dinheiro mensalmente. A partir de então o trabalho do
proletariado passa a ser de propriedade do capitalista, que se utiliza
do trabalho de seu assalariado como bem entende.
Nesse processo de venda da força de trabalho, única saída que o
operário tem para sobreviver na ausência de posse dos meios de
produção, sua forca de trabalho é submetida ao trabalho abstrato,
inserido no contexto de divisão internacional do trabalho, numa lógica
de racionalização da produção de mercadoria que elimina do trabalho
humano toda sorte de propriedades qualitativas que poderiam ser
encontradas nessa atividade. O trabalho como produção capitalista de
mercadoria perde todo caráter subjetivo natural do trabalho humano.
Fragmentado em diversas fases na linha de produção capitalista, o
trabalho, abstratamente racionalizado e mecanizado que é, interrompe a
relação do trabalhador com o produto acabado, que neste estágio se
elimina e reduz o trabalho do operário a um simples ritual de
repetição mecânica de uma fase especifica do processo de produção da
mercadoria, o que configura um trabalho alienado, posto que o
trabalhador é cerceado de suas qualidades psicológicas em função de
uma objetividade produtiva racionalizada, calculável, mensurável no
tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de uma
determinada mercadoria.
O trabalho do operário é incorporado como parte mecanizada de um
sistema que funciona independentemente e a cujo funcionamento ele deve
se submeter, numa atitude contemplativa, de quem perde sua atividade
critica, e em contrapartida se tornar um sujeito passivo diante da
engrenagem do capital ao qual esta literalmente vendido.
Nesse contexto, segundo Lukács, se configura a redução de espaço e
tempo a um mesmo denominador. O tempo ganha uma característica de
homogeneidade dentro do processo de produção e o homem perde em
personalidade. O tempo perde seu caráter qualitativo, mutável, fluido
e da espaço a uma realidade de precisão, mensurabilidade, reificacao,
trabalho mecanicamente objetivado. O homem se torna um ser impotente
diante da dinâmica capitalista de produção, que, aos seus olhos, se
converte em num sistema que lhe é estranho.
Jonh Holloway fala em reino do ser e da identidade para analisar o
fenômeno da abstração do trabalho. Para ele, a separação do fazer em
relação ao feito configura uma ruptura de um fluxo que priva o fazer
de seu movimento natural.
Uma vez que se rompe o fazer, se nega a contradição e a identidade
domina. E a identidade implica a homogeneização do tempo, quando o
fluxo do fazer é interrompido e se sujeita o fazer ao feito, num
processo de acumulação quantitativa, contida, alienada. O trabalho se
mede quantitativamente, mensurado em horas. O fazer das pessoas se
converte em algo limitado, regido pelo interesse do capital, que as
recompensa em dinheiro, tudo num ritmo preestabelecido. Ou seja, o
tempo perde seu caráter qualitativo, mutável e fluente e se cristaliza
em um continuum delimitado e mensurável. O tempo perde sua intensidade
subjetiva.
O tempo se converte no tempo do relógio, tempo que se move e que
permanece imóvel, rotineiro. O movimento também se converte em tempo
do relógio, movimento de um objeto sem sujeito, movimento que se torna
coisa, movimento em vez de um mover-se.
Retomando, o feito é separado do fazer que o fez. No capitalismo, a
mercadoria feita pelo operário é propriedade do empregador; se tornou
uma mercadoria a ser vendida no mercado, e sua existência está
completamente separada de sua constituição. O feito nega o fazer. O
objeto nega o sujeito.
O objeto constituído adquire uma identidade durável, se converte em
uma estrutura autônoma do sujeito que foi seu fazedor.
Deste modo, se pode concluir que a relação entre o processo de
abstração do trabalho em Lukács e o reino da identidade analisado por
Holloway tem em comum não apenas o escopo de apontar a alienação do
trabalho do operário em relação a mercadoria e seu processo de
produção, mas apontar também o caráter de usurpação do tempo criativo
do homem pela lógica capitalista de produção. O processo da linha de
produção é um processo que desumaniza e torna demasiado superficial o
trabalho do homem, um processo que lhe nega uma relação plena de
sentido entre seu trabalho e o produto de seu trabalho, que o faz agir
mecanicamente, quando poderia ter liberdade de criatividade e
subjetividade garantidas em uma tarefa na qual despende uma quantidade
razoável de sua vida.
Tanto a análise de Lukacs como a análise de Holloway demonstram o
primado do objeto sobre o sujeito, da mercadoria sobre o seu produtor
no sistema capitalista, a alienação que esta realidade provoca, a
castração da criatividade do intelecto e do engenho na atividade
laboral do homem.
O trabalhador merece ter plena ciência de seu trabalho, ser senhor das
coisas ao invés de ser submetido a elas. É o trabalhador que tem de se
afirmar, e não o fetiche do produto de um sistema viciado de produção
que reifica e aliena.







Bibliografia:
Lukacs. Georg. Historia e Consciência de Classe
Holloway. Jonh. Mudar o Mundo Sem Tomar o Poder, O Significado da
Revolução Hoje. Viramundo

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