Os ânimos estão exaltados na Grécia, e não é para menos.
Dez dias depois do referendo em que cerca de 60% dos votantes rejeitou ceder às
negociações com a troika, o parlamento grego votou acordo com países da União
Européia pela liberação de um pacote de 85 bilhões de empréstimo, a ser
recebido ao longo de três anos, com a condição de que o governo grego enxugue
gastos com previdência, aumente impostos e privatize estatais que andam no
vermelho.
O caminho da capitulação
Após demonstrar vacilação nos primeiros momentos como
governo, onde abriu diversas concessões aos credores, o primeiro-ministro
Alexis Tsipras recorreu a um referendo para que a população endossasse seu
posicionamento de não abrir mais concessões nas negociações. Tsipras fez aberta
propaganda pelo ``Não`` e deixou entender que se o ``Sim`` ganhasse
renunciaria, pois se negaria a gerenciar a austeridade proposta pelo imperialismo europeu.
Essa movimentação de Tsipras fez com que muitos encarassem a
manobra com estranheza. Afinal, para que um referendo se o Syriza saiu vencedor
das eleições? A população decidira nas urnas, na eleição para o parlamento, a
linha política contrária às medidas de austeridade que vinham sendo
implementadas por governos anteriores. Outros encararam o chamado ao referendo
com bons olhos. Raciocinavam que Tsipras convocava a população para apoiar o
governo diante da ofensiva da troyca.
Nós estamos entre os primeiros. Pensamos que o Syriza ganhou
nas eleições e que não precisaria submeter a voto uma política de recusa aos
achaques imperialistas. Seria o caso de convocar a população não às urnas, mas às ruas, para mostrar aos vizinhos europeus a disposição de enfrentamento do
povo grego e deixar bem claro que o país não se curvaria perante a política
hegemônica de austeridade.
Nesse caso, a esmagadora maioria do povo grego apoiaria seu
governo, porque as pessoas sabem da desgraça social que abateu o país nesses
anos de crise, e não estão dispostas a abrir mão de mais direitos e se verem
ainda mais pobres.
Rejeitar o acordo com a troyca traria duros desafios à Grécia. Mas seria muito mais honroso para o Syriza, que se elegeu pelo voto
popular com um discurso de esquerda. Não há dúvida que Tsipras e sua equipe
traíram a confiança de seus eleitores.
Agora o Syriza votou rachado no parlamento e o governo se
viu obrigado a contar com votos da oposição para aprovar o novo plano. O
imperialismo europeu humilhou Tsipras. Este fica agora completamente
desmoralizado diante de seu povo e completamente refém dos credores.
Aurora Dourada, o partido da extrema direita, pode ser o
próximo fenômeno político daquele país, já que a frente popular grega
caminha a passos largos para sua completa desgraça. Revoltados com a traição de Tsipras,
manifestantes começaram a tomar as ruas em frente ao parlamento, criaram
barricadas e incendiaram automóveis. A polícia reprimiu e houve confrontos de
rua.
Crise social
O governo decretou feriado bancário no fim de Junho e o
máximo a ser sacado nos caixas eletrônicos são míseros 60 euros. Os aposentados
são os mais desesperados e o povo está revoltado com muita razão. Resumo da ópera: Tsipras ridicularizou a esquerda e deu um empurrãozinho na direita.
É forçoso concluir que não podemos depositar esperanças em
soluções reformistas de cunho eleitoral, mas combater pela revolução socialista.
Mais uma vez a história dá razão ao marxismo.
Adoraríamos apoiar um legitimo governo progressista na
Grécia. Defenderíamos tal governo dos ataques da burguesia e do imperialismo e
propagandearíamos seus feitos. Nos resta denunciar o engodo que o governo
Syriza se tornou e apontar o caminho da ruptura revolucionária com o atual
sistema.
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