terça-feira, 15 de abril de 2014

FASCISMO: UM MÉTODO VIOLENTO DE IMPOR A CONCILIAÇÃO DE CLASSES PARA SALVAR O CAPITALISMO

Os grandes teóricos marxistas não tiveram a oportunidade de conhecer o fenômeno do fascismo em seu pleno desenvolvimento. Quem analisou a questão em profundidade foi Trotsky, em uma análise profunda  que nos permite compreender e atuar politicamente e de uma maneira revolucionária em relação ao fenômeno do fascismo.
É a única análise sobre o fascismo que dá conta efetivamente do fenômeno, ao contrário de outras análises, e não foram poucas, que se perderam em conjecturas culturais, intelectuais, psicológicas etc., que nunca chegaram a pintar um quadro realista.

NEM TODA DITADURA É FASCISTA.
Na literatura da esquerda pequeno-burguesa e da burguesia liberal, existe uma tendência a apresentar todas as ditaduras e atitudes autoritárias como fascistas, inclusive a ditadura stalinista, igualando-as de forma completamente arbitrária. Trotsky destaca que o fascismo é um tipo específico de ditadura burguesa. Na história da humanidade, existiram diversos tipos de ditadura como a de  Napoleão Bonaparte, a de Primo de Rivera na Itália e as ditaduras militares latino-americanas.

O FASCISMO PROCURA  PARECER QUE É DE ESQUERDA
O fascismo foi um movimento de massas, porém diferente do movimento da classe operária, pois a sociedade compreende outros tipos de massas que não a massa operária. Trotsky assinala que o fascismo surgiu com líderes novos, que vieram da base deste movimento. Mussolini, por exemplo, até 1913, pouco antes da I Guerra Mundial, pertencia a ala  esquerda do Partido Socialista Italiano. Após uma guinada à direita, Mussolini   começou a organizar o movimento fascista que, apesar de ser desde o início um movimento de direita, procurava aparecer como um movimento de esquerda, contra os grandes capitalistas, contra os banqueiros, para vários setores mais atrasados das massas.
O movimento fascista  surgiu na  pequena burguesia ou da classe média, mas é financiado e orientado pelo grande capital, e  adquiriu influência em determinados setores atrasados do proletariado e até mesmo em setores atrasados da massa operária.

Uma  profunda crise do imperialismo, desemprego em massa, recessão e fome, acabou desembocando na Primeira Guerra Mundial (1917-1918), uma carnificina  sem precedentes que empilhou 15 milhões de cadáveres. Neste período, o movimento revolucionário se desenvolvia plenamente na Europa, no coração do capitalismo e para se salvar, a   burguesia jogou na lata do lixo as ideias liberais e a democracia burguesa: à revolução proletária, como a Revolução russa de 1917,  a burguesia decadente respondeu com a contrarrevolução fascista, ou seja, o desencadeamento da fúria dos setores direitistas frustrados pela crise.
O colapso do capitalismo expôs o problema central da crise: a luta aberta entre a burguesia e o proletariado, a luta pelo poder e a iminente revolução. O fascismo foi uma das alternativas encontradas pela burguesia, cujo objetivo central passou a ser o combate  ao movimento operário e suas organizações. A outra solução, que não é antagônica, mas complementar à do fascismo, foi, como assinalou Trotsky, as  frentes populares.

Controlar a classe operária e a revolução era, para a burguesia de cada país, uma questão de vida e morte sob dois aspectos: de um lado, conter a revolução proletária, de outro, unificar a nação para a luta contra os concorrentes imperialistas. O fascismo predominou nos países mais débeis da cadeia imperialista mundial que não podiam conter a classe operária através dos métodos “normais” da colaboração de classes. O fascismo é, nesse sentido, um método violento de impor a conciliação entre as classes.

O FASCISMO  SURGE QUANDO A BURGUESIA NÃO ENCONTRA SAÍDA  AO PERCEBER A PROXIMIDADE DE SUA DESTRUIÇÃO COMO CLASSE
O fenômeno do fascismo existe porque chega um momento em que a exacerbação da luta de classes não permite que a ditadura normal da burguesia, com a polícia, o exército e os tribunais, controle a situação. A burguesia já não é capaz de, mesmo com uma contrarrevolução, controlar a situação com a polícia e o exército simplesmente. A Polícia se desagrega,  pois não tem uma ideologia sólida contra o movimento operário e se desagrega. Isto acontece ainda mais rapidamente entre as fileiras do exército, pois este é menos antipopular do que a polícia. Quando chega este momento, aparece a necessidade de um movimento organizado, ideológico, coeso e totalmente organizado contra a classe operária e que seja capaz de efetivamente enfrentá-la.

Quando a situação se torna revolucionária, temos a luta entre a burguesia e o proletariado, entre duas perspectivas históricas, uma decadente e outra nascente, o capitalismo e o socialismo, a revolução e a contrarrevolução. A pequena burguesia que não é nem propriamente capitalista nem socialista, se divide entre os dois campos que são duas forças polares poderosas, partindo para uma fase de desintegração. Os setores mais baixos, ou que compreendem mais claramente o movimento social, vão para o lado da classe operária, e a camada mais privilegiada se junta à burguesia.

Numa crise  de grandes proporções, a classe operária se impõe pela sua determinação revolucionária , enquanto a pequena burguesia ou classe média se desagrega: uma parcela é  manipuladas pela burguesia e outra parcela se alia ao proletariado.  Diante de fenômenos como desemprego crônico e em massa, quebra de empresas etc. , a pequena-burguesia não consegue encontrar um ponto de apoio estável, cria-se uma situação de desespero social. A classe operária, uma vez organizada, reage de forma mais racional à situação de crise, se organiza, faz greves, atua como classe, enquanto que a pequena burguesia não consegue fazê-lo, sendo, portanto, lançada no desespero e uma vez mergulhada no desespero, o capitalismo mobiliza esta camada através do fascismo contra a classe operária.

Beth Monteiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário