Os grandes teóricos marxistas não tiveram a oportunidade de
conhecer o fenômeno do fascismo em seu pleno desenvolvimento. Quem analisou a
questão em profundidade foi Trotsky, em uma análise profunda que nos permite compreender e atuar
politicamente e de uma maneira revolucionária em relação ao fenômeno do
fascismo.
É a única análise sobre o fascismo que dá conta efetivamente
do fenômeno, ao contrário de outras análises, e não foram poucas, que se
perderam em conjecturas culturais, intelectuais, psicológicas etc., que nunca
chegaram a pintar um quadro realista.
NEM TODA DITADURA É FASCISTA.
Na literatura da esquerda pequeno-burguesa e da burguesia
liberal, existe uma tendência a apresentar todas as ditaduras e atitudes autoritárias
como fascistas, inclusive a ditadura stalinista, igualando-as de forma
completamente arbitrária. Trotsky destaca que o
fascismo é um tipo específico de ditadura burguesa. Na história da
humanidade, existiram diversos tipos de ditadura como a de Napoleão Bonaparte, a de Primo de Rivera na
Itália e as ditaduras militares latino-americanas.
O FASCISMO PROCURA PARECER QUE É DE ESQUERDA
O fascismo foi um movimento de massas, porém diferente do movimento
da classe operária, pois a sociedade compreende outros tipos de massas que não
a massa operária. Trotsky assinala que o fascismo surgiu com líderes novos, que
vieram da base deste movimento. Mussolini, por exemplo, até 1913, pouco antes
da I Guerra Mundial, pertencia a ala esquerda
do Partido Socialista Italiano. Após uma guinada à direita, Mussolini começou a organizar o
movimento fascista que, apesar de ser desde o início um movimento de direita,
procurava aparecer como um movimento de esquerda, contra os grandes
capitalistas, contra os banqueiros, para vários setores mais atrasados das
massas.
O movimento fascista surgiu na pequena burguesia ou da classe média, mas é
financiado e orientado pelo grande capital, e adquiriu influência em determinados setores atrasados
do proletariado e até mesmo em setores atrasados da massa operária.
Uma profunda crise do
imperialismo, desemprego em massa, recessão e fome, acabou desembocando na
Primeira Guerra Mundial (1917-1918), uma carnificina sem precedentes que empilhou 15 milhões de
cadáveres. Neste período, o movimento revolucionário se desenvolvia plenamente
na Europa, no coração do capitalismo e para se salvar, a burguesia jogou na lata do lixo as ideias liberais
e a democracia burguesa: à revolução proletária, como a Revolução russa de
1917, a burguesia decadente respondeu
com a contrarrevolução fascista, ou seja, o desencadeamento da fúria dos
setores direitistas frustrados pela crise.
O colapso do capitalismo expôs o problema central da crise:
a luta aberta entre a burguesia e o proletariado, a luta pelo poder e a
iminente revolução. O fascismo foi uma das alternativas encontradas pela
burguesia, cujo objetivo central passou a ser o combate ao movimento operário e suas organizações. A outra solução,
que não é antagônica, mas complementar à do fascismo, foi, como assinalou
Trotsky, as frentes populares.
Controlar a classe operária e a revolução era, para a
burguesia de cada país, uma questão de vida e morte sob dois aspectos: de um
lado, conter a revolução proletária, de outro, unificar a nação para a luta
contra os concorrentes imperialistas. O fascismo predominou nos países mais
débeis da cadeia imperialista mundial que não podiam conter a classe operária
através dos métodos “normais” da colaboração de classes. O fascismo é, nesse sentido, um método violento de impor a
conciliação entre as classes.
O FASCISMO SURGE QUANDO A BURGUESIA NÃO ENCONTRA SAÍDA AO PERCEBER A PROXIMIDADE DE SUA DESTRUIÇÃO COMO CLASSE
O fenômeno do fascismo existe porque chega um momento em que
a exacerbação da luta de classes não permite que a ditadura normal da burguesia,
com a polícia, o exército e os tribunais, controle a situação. A burguesia já
não é capaz de, mesmo com uma contrarrevolução, controlar a situação com a
polícia e o exército simplesmente. A Polícia se desagrega, pois não tem uma ideologia sólida contra o
movimento operário e se desagrega. Isto acontece ainda mais rapidamente entre
as fileiras do exército, pois este é menos antipopular do que a polícia. Quando
chega este momento, aparece a necessidade de um movimento organizado,
ideológico, coeso e totalmente organizado contra a classe operária e que seja
capaz de efetivamente enfrentá-la.
Quando a situação se torna revolucionária, temos a luta
entre a burguesia e o proletariado, entre duas perspectivas históricas, uma
decadente e outra nascente, o capitalismo e o socialismo, a revolução e a
contrarrevolução. A pequena burguesia que não é nem propriamente capitalista
nem socialista, se divide entre os dois campos que são duas forças polares
poderosas, partindo para uma fase de desintegração. Os setores mais baixos, ou
que compreendem mais claramente o movimento social, vão para o lado da classe
operária, e a camada mais privilegiada se junta à burguesia.
Numa crise de grandes
proporções, a classe operária se impõe pela sua determinação revolucionária ,
enquanto a pequena burguesia ou classe média se desagrega: uma parcela é manipuladas pela burguesia e outra parcela se
alia ao proletariado. Diante de
fenômenos como desemprego crônico e em massa, quebra de empresas etc. , a
pequena-burguesia não consegue encontrar um ponto de apoio estável, cria-se uma
situação de desespero social. A classe operária, uma vez organizada, reage de
forma mais racional à situação de crise, se organiza, faz greves, atua como
classe, enquanto que a pequena burguesia não consegue fazê-lo, sendo, portanto,
lançada no desespero e uma vez mergulhada no desespero, o capitalismo mobiliza
esta camada através do fascismo contra a classe operária.
Beth Monteiro
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