quinta-feira, 16 de abril de 2015

A rua é do povo!!!


Crônica de um ato
                                                                     por Mário Medina
Aqui ninguém posa pra selfie com quem massacra nosso povo- dizia o cartaz de uma moça.
Ué, a Globo News não tá transmitindo nosso ato ao vivo? Como assim, Rede Globo?- ironizava Boulos do alto do imenso carro de som.
Garoava, uma garoa ora fraca ora forte. Quando aumentava, parte da multidão se abrigava debaixo dos poucos toldos às margens do Largo da Batata. Muita gente, muita gente mesmo, cerca de 40 mil pessoas, várias centrais sindicais, vários partidos da esquerda, até o PSTU tava lá... Muitos jornais circulavam, várias baterias animavam os manifestantes. No carro de som se revezavam representantes de todas as matizes da esquerda, presidentes de centrais e grandes sindicatos, políticos, figuras públicas, etc... Greve geral e unidade da esquerda eram consenso entre os oradores.
A passeata saiu debaixo de chuva.. Tomou a Faria Lima e entrou à esquerda na Rebouças.
Canta, canta, minha gente, deixa a tristeza pra lá, canta forte, canta alto, que a vida vai melhorar- cantava a massa de manifestantes do MTST. Atrás vinha uma interminável sequência de fileiras partidárias.
Hey, coxinha, vai bater panela!!!- gritava a multidão. A chuva foi apertando gradativamente. Na metade da Rebouças uma chuva torrencial me fez buscar abrigo na entrada de um estacionamento. Outros companheiros tiveram a mesma ideia e em pouco tempo havia dezenas de pessoas amontoadas ali.

-Você é do MTST?- perguntei a um homem do meu lado
 - Sim, assentamento tal.
- E onde fica esse lugar, cara?
- Pra lá do Jardim Ângela.
- Porra, é longe hein, camarada.
- Mais de duas horas pra chegar lá.
- Me diz uma coisa: como é o assentamento lá, companheiro? Vocês tão construindo lá?
- Não, é tudo barraco de lona.
- Ah é, sem piso, sem nada?
- Não, a gente faz um piso de cimento queimado.
- Hum... entendi.
A chuva parou e eu retomei a marcha Rebouças acima, na retaguarda da multidão. E, pra minha surpresa, o ato saia da Rebouças pra pegar um caminho alternativo pelas ruas do Jardim América, reduto elitista da região. De dentro das lojas de grife e dos cafés elegantes, burgueses atônitos olhavam o povão tomar as ruas. Um povo sofrido, judiado pela vida, alguns não muito bem vestidos, outros desdentados, crianças meio desgrenhadas, bichos grilos como eu, de chinelo de do, etc, mas um povo de luta, combativo, em movimento constante pra se desgarrar das amarras impostas pelo capital.
pl terceirização 15 de abrilEsse povo subiu triunfante a rua Augusta. Verdade que algumas senhoras idosas tiveram que parar pra respirar e assim transpor a cansativa ladeira que dava na Avenida Paulista. A passeata ainda passou pelo MASP e foi acabar na frente do prédio da FIESP, diga-se de passagem, muito bem protegido por dezenas de policiais.

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