por Mário Medina
Hoje o mundo todo volta seus olhares a dois países de
diferentes continentes e de distintas conjunturas políticas, mas que, por força
de distúrbios sócio-politicos que beiram a guerra civil, atraem atenção nas últimas semanas. As instabilidades sociais que assolam Ucrânia e Venezuela
guardam uma característica em comum, a saber, conflitos por interesse de
determinadas camadas da direita que, associadas ao imperialismo ianque,
pretendem assumir ou reassumir o controle político das regiões em questão.
De um lado está a Venezuela, país atrasado da vilipendiada
América Latina, velho quintal de atuação descarada e criminosa dos EUA; de
outro, Ucrânia, país do leste europeu que até pouco tempo atrás formava a URSS, e que
sofre duras investidas da União Européia para se afastar definitivamente da
influência russa e aderir ao bloco europeu.
Ocorre que, por detrás dos interesses divergentes, todos
eles sujeitos a análises políticas e interpretações complexas, que vão muito
mais além do que a rasteira e ideológica mídia burguesa pretende fazer crer, um
fato recorrente nos dois países em crise é o financiamento do imperialismo
americano às oposições, que já contam com milícias fascistas, neonazistas,
antissemitas, retrógradas e golpistas.
Muito embora a esquerda revolucionária não tenha nenhuma
simpatia pela gestão centrista e reformista do chavista Maduro, muito menos
pelo corrupto governo de Kiev, é nossa obrigação moral apontar para as
investidas golpistas de fundo fascista, que, financiadas pelo dinheiro sujo
americano, intentam derrubar governos para substituí-los por fantoches da
burguesia comprometidos com interesses que contrariam as reais expectativas das
massas trabalhadoras de seus países.
É fato que populares de ambos países tem tomado as ruas em
busca de melhores condições de vida, o que, alem de justo, é compreensivo. Mas
a que custo pode ser efetivada uma mudança nestas circunstâncias? Porque o
caminho para romper ou superar regimes políticos que estão aquém das
necessidades da classe trabalhadora não pode passar por regimes burgueses
retrógrados e atrelados a potências imperialistas interessadas em espoliar o
que for possível.
No calor dos confrontos de rua, na iminência de guerra civil
ou golpe da direita, a tarefa da esquerda e da classe trabalhadora é tomar
partido na defesa de seus governos. E isso nao se trata de capitulação a
governos limitados de caráter dúbio e farsesco, mas de formar uma frente única que impeça
o avanço de outras forças que implicariam em ainda mais retrocessos no processo
hegemônico e revolucionário.
É o que nós da RPR já temos afirmado a respeito da Síria,
por exemplo. Qual lado apoiar em um conflito entre Assad e oposicionistas
financiados pelas potências ocidentais? Por mais que tenhamos restrições a
Assad, nao tomaremos partido de gente que pretende derrubá-lo para, após isso,
partilhar o governo com fantoches impostos pelos EUA.
Quando Bush invadiu o Iraque em 2003, por exemplo, nenhuma
corrente revolucionária séria fez a defesa do imperialismo. Isso não queria
dizer que quisessem um Iraque com Saddan Hussein no poder. Ninguém em plena
sanidade tomaria partido de Bush e do massacre que estava em marcha, inclusive
com todas as implicações dos anos de guerra que se sucederam, para se livrar do
espectro de Saddan.
Tomar o poder e fazer a mudança necessária é tarefa
intransferível da classe trabalhadora e da esquerda. A derrubada desses
governos pela direita não resultaria em condições favoráveis de vida e
desenvolvimento da população; pelo contrário, resultaria em políticas
econômicas de austeridade e entrega dos patrimônios nacionais para a rapinagem
imperialista.