terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

VENEZUELA : OS LIMITES DO REFORMISMO E DO NACIONALISMO

                                                             por Beth Monteiro

Em 27 de fevereiro de 1989 aconteceu uma explosão social espontânea, de grandes proporções em Caracas, na Venezuela: o Caracazo. A causa mais imediata da rebelião popular FOI O AUMENTO DO PREÇO DO TRANSPORTE COLETIVO. Nesse dia, ônibus foram apedrejados e queimados em todo o país; lojas, supermercados, shoppings centers, pequenos comércios, nada escapava aos saques ; a certa altura, já não se podia discernir o que eram trabalhadores em protesto ou simples miseráveis famintos. Os militares foram chamados para restabelecer a ordem, seguindo-se um massacre de grandes proporções.

CHAVES FOI ELEITO PRESIDENTE NOVE ANOS APÓS CARACAZO, mas refletia as esperanças de seus protagonistas. Isso permitiu que, num primeiro momento, ele pudesse neutralizar os setores mais reacionários da burguesia que tiveram que aceitar aquele que era visto como um inimigo, porque este postergava a perspectiva de uma revolução socialista.

EXISTEM MUITAS ILUSÕES COM O REFORMISMO em movimentos, em governos ou regimes nacionalistas. Embora, governos de Frente Popular sejam vistos como uma espécie de antessala para o socialismo, muitos são os exemplos de frustração deste caminho, uma vez que, em todos os casos, acabaram derrotados por um golpe de direita (Chile com Allende) ou sucumbindo ao liberalismo ou ao neoliberalismo (Brasil com Lula e Dilma), tornando-se, assim, uma barreira para os processos revolucionários.

ENQUANTO A CRISE DO CAPITALISMO NÃO APERTAVA SUAS TENAZES SOBRE A VENEZUELA, CHAVES CONSEGUIU CONTORNAR AS CRISES SOCIAIS com algumas concessões aos setores mais empobrecidos da população e jogando, ora com a cooptação, ora com repressão aos movimentos sindicais que eram e são vistos, graças ao discurso oficial, como boicotadores da Revolução Bolivariana, ou de aliados da direita pró-imperialista.

AGORA, O GOVERNO DE MADURO ENFRENTA UMA CONJUNTURA DE APROFUNDAMENTO DA CRISE CAPITALISTA, que atinge em cheio a economia da Venezuela. Nesta situação, já não há mais espaço para concessões como melhorias salariais, mais liberdades democráticas, e outras reivindicações dos trabalhadores, porque qualquer rachadura fará com que o dique se rompa de vez com a ira da burguesia, que foi contida graças ao amplo apoio das massas empobrecidas ao governo, tornando-se cada vez mais ousada e violenta.

NUMA SOCIEDADE PROFUNDAMENTE DIVIDIDA entre os que defendem um maior grau de entreguismo, os que apoiam a atual política e os que lutam por melhores condições de vida, o que, na atual conjuntura, significa medidas que rompam com o capitalismo, resta aos socialistas da esquerda revolucionária deixarem claro que a única saída para a Venezuela resistir às investidas do imperialismo é o Socialismo. Embora as lutas e reivindicações dos trabalhadores denunciem o caráter burguês do governo, é preciso que denunciem também os ataques do imperialismo, e que levem em consideração o fato de a maioria dos setores mais empobrecidos da população ainda acreditarem que, com Maduro, estejam a caminho do socialismo.

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