por Beth Monteiro
Em 27 de
fevereiro de 1989 aconteceu uma explosão social espontânea, de grandes
proporções em Caracas, na Venezuela: o Caracazo. A causa mais
imediata da rebelião popular FOI O AUMENTO DO PREÇO DO TRANSPORTE
COLETIVO. Nesse dia, ônibus foram apedrejados e queimados em todo o
país; lojas, supermercados, shoppings centers, pequenos comércios, nada
escapava aos saques ; a certa altura, já não se podia discernir o que
eram trabalhadores em protesto ou simples miseráveis famintos. Os
militares foram chamados para restabelecer a ordem, seguindo-se um
massacre de grandes proporções.
CHAVES FOI ELEITO PRESIDENTE NOVE ANOS APÓS CARACAZO, mas refletia as esperanças de
seus protagonistas. Isso permitiu que, num primeiro momento, ele
pudesse neutralizar os setores mais reacionários da burguesia que
tiveram que aceitar aquele que era visto como um inimigo, porque este
postergava a perspectiva de uma revolução socialista.
EXISTEM
MUITAS ILUSÕES COM O REFORMISMO em movimentos, em governos ou
regimes nacionalistas. Embora, governos de Frente Popular sejam vistos
como uma espécie de antessala para o socialismo, muitos são os
exemplos de frustração deste caminho, uma vez que, em todos os casos,
acabaram derrotados por um golpe de direita (Chile com Allende) ou
sucumbindo ao liberalismo ou ao neoliberalismo (Brasil com Lula e
Dilma), tornando-se, assim, uma barreira para os processos
revolucionários.
ENQUANTO A CRISE DO CAPITALISMO NÃO APERTAVA
SUAS TENAZES SOBRE A VENEZUELA, CHAVES CONSEGUIU CONTORNAR AS CRISES
SOCIAIS com algumas concessões aos setores mais empobrecidos da
população e jogando, ora com a cooptação, ora com repressão aos
movimentos sindicais que eram e são vistos, graças ao discurso
oficial, como boicotadores da Revolução Bolivariana, ou de aliados da
direita pró-imperialista.
AGORA, O GOVERNO DE MADURO ENFRENTA
UMA CONJUNTURA DE APROFUNDAMENTO DA CRISE CAPITALISTA, que atinge em
cheio a economia da Venezuela. Nesta situação, já não há mais espaço para
concessões como melhorias salariais, mais liberdades democráticas, e
outras reivindicações dos trabalhadores, porque qualquer rachadura fará
com que o dique se rompa de vez com a ira da burguesia, que foi
contida graças ao amplo apoio das massas empobrecidas ao governo,
tornando-se cada vez mais ousada e violenta.
NUMA SOCIEDADE
PROFUNDAMENTE DIVIDIDA entre os que defendem um maior grau de
entreguismo, os que apoiam a atual política e os que lutam por
melhores condições de vida, o que, na atual conjuntura, significa
medidas que rompam com o capitalismo, resta aos socialistas da esquerda
revolucionária deixarem claro que a única saída para a Venezuela
resistir às investidas do imperialismo é o Socialismo. Embora as lutas e
reivindicações dos trabalhadores denunciem o caráter burguês do
governo, é preciso que denunciem também os ataques do imperialismo, e
que levem em consideração o fato de a maioria dos setores mais
empobrecidos da população ainda acreditarem que, com Maduro, estejam a
caminho do socialismo.
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