Por Mário Medina
É quase fim de
setembro e a eleição burguesa, esse engodo, se aproxima de seu
primeiro turno. Tudo indica um seguro turno entre Dilma e Marina. De
um lado, a continuação explícita, de outro, a continuação velada.
Porque Marina, em um eventual governo, seguirá muito próxima do que
foi FHC e Lula e do que está sendo a atual gestão.
A briga aqui não é
ideológica, para ver quais rumos o país tomará, quais serão as
novas estratégias, etc. A neotucana Marina já antecipou que vai
governar com PSDB e PT. E, pelo, visto, governará com um PSDB coeso,
que a apoiará no segundo turno, e com um PT que virá destroçado.
Tudo indica que PMDB, DEM, etc... etc... todos eles conformarão um
governo de coalisão, numa frente ampla de partidos da ordem.
Oxalá o Psol
multiplique sua bancada parlamentar, e os companheiros do PSTU e do
PCB também elejam deputados. Essa será a oposição isolada do
governo que virá. Não muito diferente do que já acontece, porque só
a frente de esquerda efetivamente se opõe no Brasil. A própria mídia
patronal criticou a moleza da oposição de direita nos últimos anos;
o que aos olhos dos críticos do regime configura mais um índício de
que a real disputa política nos bastidores de Brasília não se dá
por disputas de rumo, mas por uma luta fratricida de poder entre
diferentes camadas da burguesia.
Marina, por exemplo,
fala em autonomia do banco central, mas diz que a ideia é reduzir os
juros. Está na cara a enrolação. Financiada por banqueiros e com uma
das maiores acionistas do Itau por trás de sua campanha, Marina é
esperança de maiores rendimentos no mercado financeiro. A ideia por
trás do velho discurso de competência técnica é reduzir o tamanho
do estado na economia e liberar o mercado para ``se auto-regular``,
sem explicitar como conter os juros ou como manter um baixo nível de
desemprego.
Como dinamizar a
economia arrochando salários e colocando uma parcela ainda maior de
trabalhadores na desocupação e na informalidade? Como dinamizar a
economia sem mercado consumidor, sem poder de compra? Ou, de outro
lado, num eventual segundo mandato de Dilma, como acreditar no
crescimento econômico de um governo que concentra suas prioridades em
atividades de extração, agricultura e outros setores de produção de
baixo valor agregado? Ou, ainda, como acreditar no desenvolvimento de
uma massa de pessoas que vive de migalhas? Afinal, são os rentistas
que ganham dinheiro nesse país; são as transnacionais que se
beneficiam das isenções fiscais desse governo dócil e entreguista.
As diferenças entre as
gestões, entre petistas, tucanos, marineiros, são pontuais ou
meramente discursivas. Uma coisa ou outra em relação à política
internacional. Porque o PSDB tem o velho ranço reacionário de bater
em governos mais progressistas da América Latina, ou uma forma
declaradamente truculenta de lidar com os movimentos sociais, vide
Alckmin em São Paulo.
De resto, existem
grandes acordos entre um e outro lado. Lula no primeiro ano do
primeiro mandato já desferiu o duro golpe da Reforma Previdenciária,
deixou toda a moral de sindicalista durão pra trás e aplicou a mesma
política econômica que criticava. Após 12 anos de PT, a classe
trabalhadora continua falida, individada, trabalhando muito pra
ganhar pouco e tendo uma vida que deixa muito a desejar em qualidade.
Ou seja, resta escolher
entre o ruim e o menos pior. Todos eles seguirão governando com
Maluf, Renan , Collor, Sarney, as oligarquias, as empreiteiras, os
banqueiros. Nenhum deles propõe rompimento com a lógica neoliberal;
nenhum deles vai na raíz das desigualdades sociais pra propor um
governo que beneficie os trabalhadores.
Todos eles vão meter o
pé na lama das periferias em campanha. Vão abraçar os pobres, beijar
as criancinhas, distribuir sorrisos e promessas. Mas depois vão se
regalar no poder do dinheiro dos capitalistas que os financiam, vão
andar de jatinhos e jantar lagosta com champagne em salões blindados
da miséria que impera Brasil afora.
Dar-se conta disso,
indignar-se com isso e criar alternativas de luta e poder popular é
o caminho para a superação. Para derrubar os canalhas, é preciso
coragem para organizar-se. Organizar-se nos locais de trabalho, nos
bairros, nas favelas, nos sindicatos, nos partidos da esquerda
revolucionária.
É imperativo construir
uma sólida alternativa popular, com redes de ajuda mútua,
associações de operários, milicias de auto-defesa, com vistas a
construção de um instrumento político à altura do que foi o PT no
início da década de 80. A crise brasileira é a crise da direção
dos trabalhadores. É preciso romper com o PT, romper com a
experiencia frustrada do PT, superar a ilusão de que é possível
mudar alguma coisa por dentro do congresso nacional ou de cargos no
executivo. Perceber que esse regime de poder é manipulado pelo
capital é o pressuposto para não criar falsas-esperanças, mas guinar
para a ruptura necessária.
Os sujeitos
politicamente esclarecidos tem a vocação e o dever ético de
disseminar as novas ideias. Não basta muito saber-se explorado.
Faz-se necessário movimentar-se contra a exploração. Como na
alegoria da caverna de Platão, muito embora converjamos para outras
conclusões aqui, o sujeito que se liberta e descobre a verdadeira
realidade é o sujeito que volta ao local da ilusão para
``desvendar`` seus antigos companheiros. Na alegoria platônica, o
sujeito é violentamente morto por seus companheiros de outrora, mas
termina seus dias na nobre missão de elucidá-los. Muitos morreram
pela causa revolucionária; tantos são os nossos mártires. Muita
gente abdica da luta com medo do martírio, por conforto, por
interesses pessoais mesquinhos, etc. Contudo, é essa a luta que tem
de ser travada por um Brasil melhor. Não adianta acreditar em
milagres eleitorais, em jingles messiânicos. O povo tem que acreditar
que pode derrubar o sistema! E, acreditando, lutar para fazê-lo.