domingo, 21 de setembro de 2014

Para sair da caverna / Universalizar a consciência e encorpar a luta revolucionária

                                                                                                  Por Mário Medina

É quase fim de setembro e a eleição burguesa, esse engodo, se aproxima de seu primeiro turno. Tudo indica um seguro turno entre Dilma e Marina. De um lado, a continuação explícita, de outro, a continuação velada. Porque Marina, em um eventual governo, seguirá muito próxima do que foi FHC e Lula e do que está sendo a atual gestão.
A briga aqui não é ideológica, para ver quais rumos o país tomará, quais serão as novas estratégias, etc. A neotucana Marina já antecipou que vai governar com PSDB e PT. E, pelo, visto, governará com um PSDB coeso, que a apoiará no segundo turno, e com um PT que virá destroçado. Tudo indica que PMDB, DEM, etc... etc... todos eles conformarão um governo de coalisão, numa frente ampla de partidos da ordem.
Oxalá o Psol multiplique sua bancada parlamentar, e os companheiros do PSTU e do PCB também elejam deputados. Essa será a oposição isolada do governo que virá. Não muito diferente do que já acontece, porque só a frente de esquerda efetivamente se opõe no Brasil. A própria mídia patronal criticou a moleza da oposição de direita nos últimos anos; o que aos olhos dos críticos do regime configura mais um índício de que a real disputa política nos bastidores de Brasília não se dá por disputas de rumo, mas por uma luta fratricida de poder entre diferentes camadas da burguesia.
Marina, por exemplo, fala em autonomia do banco central, mas diz que a ideia é reduzir os juros. Está na cara a enrolação. Financiada por banqueiros e com uma das maiores acionistas do Itau por trás de sua campanha, Marina é esperança de maiores rendimentos no mercado financeiro. A ideia por trás do velho discurso de competência técnica é reduzir o tamanho do estado na economia e liberar o mercado para ``se auto-regular``, sem explicitar como conter os juros ou como manter um baixo nível de desemprego.
Como dinamizar a economia arrochando salários e colocando uma parcela ainda maior de trabalhadores na desocupação e na informalidade? Como dinamizar a economia sem mercado consumidor, sem poder de compra? Ou, de outro lado, num eventual segundo mandato de Dilma, como acreditar no crescimento econômico de um governo que concentra suas prioridades em atividades de extração, agricultura e outros setores de produção de baixo valor agregado? Ou, ainda, como acreditar no desenvolvimento de uma massa de pessoas que vive de migalhas? Afinal, são os rentistas que ganham dinheiro nesse país; são as transnacionais que se beneficiam das isenções fiscais desse governo dócil e entreguista.
As diferenças entre as gestões, entre petistas, tucanos, marineiros, são pontuais ou meramente discursivas. Uma coisa ou outra em relação à política internacional. Porque o PSDB tem o velho ranço reacionário de bater em governos mais progressistas da América Latina, ou uma forma declaradamente truculenta de lidar com os movimentos sociais, vide Alckmin em São Paulo.
De resto, existem grandes acordos entre um e outro lado. Lula no primeiro ano do primeiro mandato já desferiu o duro golpe da Reforma Previdenciária, deixou toda a moral de sindicalista durão pra trás e aplicou a mesma política econômica que criticava. Após 12 anos de PT, a classe trabalhadora continua falida, individada, trabalhando muito pra ganhar pouco e tendo uma vida que deixa muito a desejar em qualidade.
Ou seja, resta escolher entre o ruim e o menos pior. Todos eles seguirão governando com Maluf, Renan , Collor, Sarney, as oligarquias, as empreiteiras, os banqueiros. Nenhum deles propõe rompimento com a lógica neoliberal; nenhum deles vai na raíz das desigualdades sociais pra propor um governo que beneficie os trabalhadores.
Todos eles vão meter o pé na lama das periferias em campanha. Vão abraçar os pobres, beijar as criancinhas, distribuir sorrisos e promessas. Mas depois vão se regalar no poder do dinheiro dos capitalistas que os financiam, vão andar de jatinhos e jantar lagosta com champagne em salões blindados da miséria que impera Brasil afora.
Dar-se conta disso, indignar-se com isso e criar alternativas de luta e poder popular é o caminho para a superação. Para derrubar os canalhas, é preciso coragem para organizar-se. Organizar-se nos locais de trabalho, nos bairros, nas favelas, nos sindicatos, nos partidos da esquerda revolucionária.
É imperativo construir uma sólida alternativa popular, com redes de ajuda mútua, associações de operários, milicias de auto-defesa, com vistas a construção de um instrumento político à altura do que foi o PT no início da década de 80. A crise brasileira é a crise da direção dos trabalhadores. É preciso romper com o PT, romper com a experiencia frustrada do PT, superar a ilusão de que é possível mudar alguma coisa por dentro do congresso nacional ou de cargos no executivo. Perceber que esse regime de poder é manipulado pelo capital é o pressuposto para não criar falsas-esperanças, mas guinar para a ruptura necessária.
Os sujeitos politicamente esclarecidos tem a vocação e o dever ético de disseminar as novas ideias. Não basta muito saber-se explorado. Faz-se necessário movimentar-se contra a exploração. Como na alegoria da caverna de Platão, muito embora converjamos para outras conclusões aqui, o sujeito que se liberta e descobre a verdadeira realidade é o sujeito que volta ao local da ilusão para ``desvendar`` seus antigos companheiros. Na alegoria platônica, o sujeito é violentamente morto por seus companheiros de outrora, mas termina seus dias na nobre missão de elucidá-los. Muitos morreram pela causa revolucionária; tantos são os nossos mártires. Muita gente abdica da luta com medo do martírio, por conforto, por interesses pessoais mesquinhos, etc. Contudo, é essa a luta que tem de ser travada por um Brasil melhor. Não adianta acreditar em milagres eleitorais, em jingles messiânicos. O povo tem que acreditar que pode derrubar o sistema! E, acreditando, lutar para fazê-lo.


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