sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A vitória da frente popular grega e o caminho a seguir

                                                                                                            por Mário Medina


A vitória do Syriza nas eleicoes gregas foi o assunto da semana. E nao é pra menos; um partido de esquerda ganhando 149 das 300 cadeiras de um parlamento, ficando só duas cadeiras aquém do número necessário pra governar sem coalizao alguma, realmente é um feito inédito,

A priori é motivo de comemoracao. Poderia ter havido vitória da direita. Isso sim seria complicado. Mas foi a esquerda que capitaneou o descontentamento das massas com as políticas de austeridade, quando, em toda a Europa, é justamente o contrário que tem acontecido, com o crescimento vertiginoso de grupos fascistas que aumentam consideravelmente suas bancadas parlamentares. Nesse sentido, podemos notar avanco da conciencia dos trabalhadores gregos, hegemonia política das ideias democráticas e socialistas. Os mesmos ventos sopram na Espanha, num projeto encarnado pelo Podemos, de Pablo Iglesias.

Contudo, o avanco ainda nao é revolucionário. Pra gerir o estado burgues grego, o Syriza fechou acordo com um partido da direita e topou soltar uma carta acalmando os banqueiros. Trata-se de um governo de frente popular, reformista. Está clara a delimitacao do projeto. O que intriga a todos é que o Syriza banque realmente a reforma. Ouvi um amigo dizer: É a primeira vez em 30 anos que vejo um governo reformista fazer reformas!

E isso é incrível. Um dia após a vitória eleitoral, o desengravatado Tsipras já efetivava diversas promessas de campanha, afrontando a burguesia grega e o imperialismo, se negando, inclusive, a aderir a sancoes da Uniao Europeia contra a Rússia.

Ok, sabemos que o Syriza está legitimando 50% da dívida, e que vao aceitar renegociá-la para continuar seu pagamento; sabemos que esse mesmo Syriza pode estar operando como um eficaz mecanismo de contencao social em um país quebrado pela crise e por anos de austeridade e penúria; mas estamos tratando de um governo eleito. Ou alguém em sa consciencia vai dizer que o Syriza é o bolchevismo do século 21?

Óbvio que a tarefa da esquerda revolucionária é fazer a revolucao, sem se contentar com etapismos, com pequenas ou grandes reformas por dentro do sistema; mas nenhum revolucionário de verdade vai deixar de lutar pelos direitos mais elementares da classe trabalhadora. Todas as medidas populares desse governo eleito já sao conquistas da classe trabalhadora grega. E a esquerda revolucionária tem de defende-las.

Os trabalhadores gregos optaram por uma experiencia com o Syriza, e precisamos entender essa opcao, respeitá-la, deixar que ela aconteca. A frente popular deverá ser superada adiante, mas que seja superada a esquerda, e nao esmagada por um golpe direitista ou coisa que o valha.

É cedo ainda para caracterizacoes mais precisas. É preciso dar tempo ao tempo, observar atentamente os próximos acontecimentos. A verdade é que a Grécia está em calamitosa situacao por conta de uma das maiores crises do capitalismo, e que uma das solucoes encontradas pelo establishment é socializar perdas pra privatizar ganhos. Querem descontar a crise nos ombros dos trabalhadores. E a populacao grega rejeitou isso nas urnas. Oxalá essa mesma populacao nao se de por satisfeita e siga nas ruas pra exigir que o Syriza vá ainda mais adiante no rompimento com a troika e com os banqueiros. É tarefa dos revolucionários levar o proletariado a assumir tal postura.

Ademais, a esquerda revolucionária estará nas ruas pra reivindicar os interesses dos trabalhadores, pra exigir que o Syriza jogue um papel progressivo e garanta os direitos que a burguesia ousou retirar. Mas essa mesma esquerda também estará nas ruas pra defender o Syriza de qualquer ataque da direita ou do imperialismo.

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