segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Desconstrução das opressoes. Uma interface entre Deleuze e Karl Marx

                                                                          por Roberto Barros / RPR- Ribeirão Preto

Me proponho a uma tarefa complexa, mas gratificante. Ponho-me a escrever um breve texto sobre a interface desses dois pensadores no intuito de promover uma desconstrução nas formas hegemônicas de poder, pelo menos, no que tange ao universo linguístico-cultural. Para fazer essa convergência de ideias poderíamos nos remeter ao autor Lazzarato. Partindo-se do axioma filosófico levantado por ele, podería-se indagar: Como construir mundos onde não haja uma produção fixável ou mensurável o suficiente para o capitalismo expropriá-la? Penso que isso signifique, pelo menos o autor coloca dessa forma, uma ruptura do pensamento dualista do tipo ''isto ou aquilo'' e deslocar para uma ampliação das diversas pautas de valores e direitos. Dessa forma, as lutas por gênero saem do escopo Mulher/Homem e atingem o patamar dos "mil sexos", ou seja, incluindo todos os gêneros que são oprimidos pelo patriarcado. Da mesma forma, a luta antes denominada GLS, que passou a ser LGBT, depois LGBTT, no sentido de incluir as diversas formas de orientação sexual. Seja em um aspecto ou em outro, percebe-se que a militância, agora, encontra-se (e deve encontrar-se em rede - juntos e separados). Nesse sentido, a opressão econômica, à classe proletária, do Marxismo tradicional, deve-se converter nas "mil diferenças". Isso é, de certa forma esclarecedor e pontua uma característica que não se pode negar. A "força" do capitalismo contemporâneo, sua monstruosidade, está em sua enorme capacidade de modulação, ou seja, consiste na multiplicação dos modos de apreender, recodificar e incorporar tudo que se coloca para além de si mesmo. Nesse século XXI, o cerne do capitalismo não é mais a fábrica, mas as empresas. É nesse sentido que encontra-se a interface entre Deleuze e Marx. Atualmente, menos do que fabricar um objeto, fabrica-se o DESEJO E A CRENÇA. É, justamente, a imagem que chega antes do produto e o espetáculo antes do consumo. A empresa não fabrica o objeto, mas o mundo em que este objeto vive. A antiga lei de mercado oferta - procura e escassez, hoje, encontra-se em outro patamar: a lei, hoje, é a constituição de público e sua fidelização. Em suma: A demanda não se subordina à oferta, mas é criada independentemente dela. Essa é uma das manifestações mais nefastas desse sistema, pois hoje o capitalismo tem COLONIZADO o campo dos possíveis ao apreender os fluxos de desejos e extrair o lucro. Esse ponto é bem retratado por Lazzarato no livro Revoluções do Capital. Essa lógica incutiu ao indivíduo pensar como um "empreendedor de si mesmo" e deslocou serviços como educação, saúde, aposentadoria; que são serviços sociais em um "investimento individual" É o indivíduo se sobrepondo ao coletivo e legitimando esse processo com discursos tipicamente meritocráticos. Portanto, "NÃO PRECISAMOS DO CAPITALISMO. Não é ele quem gera valor, mas as redes colaborativas das pessoas, na sua organização de fluxos e criação de mundos. O capitalismo fixa os fluxos e isola os circuitos dessa rede global, e assim acumula. Faz isso não por princípios intrínsecos (“leis econômicas”) do sistema, mas pela coação do direito". (Lazzarato). Nesse sentido faz-se necessário lutar pela consolidação dos direitos sem perder de vista as "mil diferenças" e os "mil sexos", pois igualdade propicia as diferenças e não as nega (fato que muitos deveriam levar em consideração, ainda mais, quando perpetuam discursos direitistas e conservadores sem pensar nas construções sociais formadas). Para isso, o autor defende a ideia de "guerra semiótica" ou mesmo, uma "guerra de estética", uma disputa midiática dos públicos e dos processos de mobilização de sua atenção. Na nova “economia do sensível”, o ativismo cultural torna-se imediatamente polítco.


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