quarta-feira, 26 de novembro de 2014

EUA: FERGUSON FORA DE CONTROLE


Os motins, em Ferguson e outras cidades, nos Estados Unidos, romperam abruptamente o pacto social obtido após dois séculos e meio de lutas por mais igualdade e oportunidade. A explosão social contra o racismo jogou por terra o mito de que a eleição do primeiro presidente negro na história do país significaria uma nova era de tolerância para com a população afro-americana.
A revolta , embora tenham sido menos violenta, na noite desta terça-feira(25), não dá sinais de arrefecimento; as autoridades fortalecem seu aparato de segurança, e a mídia em busca de justificativa tenta reduzir uma histórica explosão social em um tipo de performance encenada (pela direita?). Desde que souberam que Darren Wilson, o oficial branco, não seria condenado, as autoridades começaram os preparativos para enfrentar caos, como se fossem para uma guerra.
Tornou-se comum, há muito tempo, comunidades negras em todo o país protestarem contra tiroteios policiais que atingem negros desarmados. Mas, desta vez, a revolta e a frustração se tornaram violentas porque o sentimento de privação de direitos se tornou insuportável. Nos Estados Unidos, como no Brasil os negros (principalmente os rapazes) são os que mais sofrem com o desemprego ou subemprego, não podem relaxar, não podem colocar os pés nas ruas sem serem ameaçados.
Não estão sendo em vão os protestos. A cidade decidiu criar um conselho cidadão para monitorar seu departamento de polícia, e a Câmara Municipal decidiu acabar com um sistema em que as multas judiciais são utilizadas para financiar uma parte significativa do orçamento de Ferguson.
Enquanto a direita vê tudo como um Carnaval sem sentido, alguns teóricos de esquerda vêm nessas batalhas de rua uma revolta contra o endividamento estudantil, o desemprego e um sentimento crescente de que a promessa americana de mobilidade social foi quebrada. Há analistas que avaliam que as mídias sociais tiveram um papel importante nos protestos.
Em décadas anteriores, argumentos sobre tiroteios policiais consistiriam em debate entre a versão oficial da polícia e a palavra de uma ou duas testemunhas. Agora, toda a nação pôde ver o tiroteio, o rescaldo, o inquérito, corpo de Brown na rua, trabalhadores da construção civil horrorizados após o tiroteio, a dor de uma mãe. A onipresença de vídeos, câmeras de vigilância, celulares e smartphones está protagonizando uma importante mudança de poder nas ruas.

Fontes: W.Post - N.Y Time

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