segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Buscar unidade e seguir lutando!

                                                                                          por Mário Medina
A opinião predominante nas correntes da esquerda é de que a participação / intervenção no processo eleitoral burguês foi vitoriosa. Curioso notar que os maoistas, por exemplo, superestimam os já habituais 30% de nulos, brancos e abstencções, pintando um cenário de extremo descontentamento das massas trabalhadoras, o que é certo, mas apontando o voto nulo como expressão de uma maior tomada de consciência dos trabalhadores, argumento largamente usado para ratificar seu posicionamento pró- voto nulo. Ou seja, o argumento tacanho vem em defesa de uma política que até respeitamos como expressão legítima de uma corrente de pensamento que tem suas convicções, mas que não nos furtamos de apontar como sendo equivocada.
Ora, se o povo estivesse assim tão consciente do caráter de classe, teria ido às urnas pra votar no Psol, no PSTU, no PCB; elegeria uma robusta bancada da esquerda radical, levaria ao segundo turno nossos candidatos aos cargos majoritários, etc. Aliás, se o povo estivesse assim tão consciente, estaríamos às portas da revolução brasileira. Mas, pelo contrário, vivemos uma conjuntura de consciência atrasada. Vejam que a bancada evangélica cresceu, a bancada ruralista cresceu, as bancadas da bala estão em plena ascenso, a bancada do PT, a mais progressista dentre as maiores bancadas, diminuiu.
Desde sempre o marxismo leninismo revolucionário defendeu a intervencao dos comunistas revolucionários nas instâncias da democracia burguesa. Nao como estratégia de tomada do poder por via democrática-eleitoral, mas como uma tribuna a ser usada para disseminar ideias e apontar as contradicções do regime.
Os companheiros maoistas, por exemplo, tomaram a liberdade de revisionar esse pressuposto leninista de intervenção. Eles tem todo o direito de fazer o que bem entendem, mas nós temos o direito de fazer a crítica e alertar a classe trabalhadora dos motivos pelos quais participamos no processo eleitoral, muito embora sempre pontuemos suas limitações e apontemos para alternativas revolucionárias no processo de tomada do poder.
A esquerda centrista e revisionista que participa das eleicoes com seus partidos e candidatos, por outro lado, pinta um cenário de vitória moral, por assim dizer, ressaltando a heroica intervencao de uma esquerda que faz campanha sem ter dinheiro ou aparatos, que não se vende aos financiamentos capitalistas, etc, o que é verdade; mas nao tem a grandeza moral de tecer auto-críticas e assumir derrotas.
Esse discurso da vitória é velho conhecido dos militantes sociais. Toda vez que alguma coisa nao dá muito certo, sempre aparece uma meia dúzia de dirigentes dizendo à sua base coisas como: `` Foi uma vitória, companheiros. Saimos dessa luta sabendo que fizemos o que estava ao nosso alcance. A mobilizacao já é uma vitória, etc, etc``.
Não estamos dizendo que a mobilizacao nao é uma vitória. Evidente que se mobilizar é muito bom. E com tanta repressão do estado, com tantas dificuldades que surgem em meio a processos de luta, etc. Mas tem muita gente fazendo tábula rasa das lutas sociais com esse discurso. E isso é desonestidade intelectual. Amenizar a complexidade dos processos históricos de luta para reduzí-los a um discurso pasteurizado é subestimar a base social a que se fala, é se blindar de crítica, é se furtar de uma discussão extremamente necessária para um salto qualitativo da organização dos trabalhadores.
A RPR sauda os valorosos militantes da esquerda revolucionária, mas não a troco da ocultacao de questões que nos soam mais pertinentes do que nunca. Fizemos o que podíamos ter feito para colocar nossas candidaturas na rua? Certamente. Fizemos o diálogo com as massas, apresentamos uma plataforma política de transição ao socialismo? Certamente. Mas isso não é tudo. Não é só de eleicao que vivem os partidos de esquerda. E é nisso que nos distinguimos dos velhos partidos da ordem. Nossos partidos não são meras legendas pra nos dar o direito de lançar candidatos e eleger parlamentares. Nossos partidos são instrumentos de organizacção das lutas.
E se não tivéssemos o registro no TSE, se ainda estivéssemos na clandestinidade? Nossas organizações não podem ser legendas para coadunar com o cretinismo parlamentar, mas tem que ser espaço dos trabalhadores, dos estudantes, da juventude das periferias. Tem que ser espaço dos sindicalistas, das lutas salariais, das lutas por direitos; lugar de articular greves e manifestações, lugar de conspirar contra o poder do capital. Em suma, as organizacoes revolucionárias só tem razão de existir se estiverem comprometidas com a revolução social.
O Psol rachou no segundo turno e nao foi capaz de apontar uma alternativa para sua base social. A esquerda rachou, com ligeira vantagem numérica da opcão pelo voto nulo sobre a opcão pelo voto crítico em Dilma. A questao aqui é delicada. A base ficou dividida entre as deliberacoes de voto nulo da maioria das direcções e o medo da volta dos tucanos. Mas uma hora o PT vai sair do poder. Tudo o que discutimos agora será retomado em breve, até porque Dilma corre o risco de não chegar ao fim do mandato, e vamos nos deparar outras vezes entre o ruim e o menos pior, entre os ataques desferidos pela frente popular do PT e a iminente volta da direita tradicional.
Mas esse não é ponto central. Tudo isso é circunstancial e as divergências táticas fazem parte da diversidade política que existe na esquerda brasileira. O ponto central é saber como lidar com a necessidade de construir uma alternativa revolucionária no país, independentemente da conjuntura política que estará posta. Essa alternativa passa pela unidade da esquerda. Existe um sem número de partidos e correntes, mas também existe mais de uma dezena de centrais sindicais, existe uma gama imensa de movimentos sociais, e existe uma desarticulação que impede o avanço geral da classe e dos oprimidos.
O levante de Junho de 2013 foi um sopro de esperanca, mas não avançou por falta de uma direção. A esquerda, mais organizada, talvez fosse capaz de liderar uma sublevação popular contundente, com greves gerais, ganhos efetivos.
Muitas propostas foram colocadas, e devem ser ponderadas com seriedade e maturidade. Mas um fórum unificado das Jornadas de Junho nos parece imprescindível, pra nao perder o folego das revoltas populares, pra continuar nas ruas e preparar a classe e sua vanguarda para as lutas do próximo período. As oportunidades históricas não podem nos escapar por entre os dedos. Está na hora de superar egos e sectarismos!

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