quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A SIMBIOSE IRAQUE SÍRIA

                                                             por Beth Monteiro/ RPR- Rio de Janeiro
Os levantes na Síria encorajaram os seus compatriotas no Iraque, que partilham uma fronteira comum, a começarem os seus próprios protestos que se iniciaram em dezembro de 2012 até que o exército iraquiano matasse e ferisse vários manifestantes pacíficos em Hawijah.

No Iraque pós guerra, não há mais acordo político, nem diálogo, nem confiança entre as diferentes comunidades. Para os trabalhadores, principalmente os de confissão sunita, foram fechadas as portas do trabalho, e abertas as da prisão.

A nova lei trabalhista é ainda pior do que no antigo regime, pois priva o funcionalismo público dos direitos mais básicos como o de se organizar e o direito de greve. Além disso, foram facilitadas as demissões dos trabalhadores pelos proprietários de fábricas e petroleiras. O governo iraquiano aceitou as exigências do FMI como condições para um empréstimo compulsório de cerca de 436 milhões de dólares e em troca iniciou as reformas neoliberais.

Os protestos populares no Iraque em 2012, os maiores em várias gerações, foram violentamente reprimidos. Neste período, o primeiro Ministro, Maliki, fez promessas e tentou cooptar a vanguarda do movimento, ao mesmo tempo em que encarcerou centenas e matou dezenas. Longe de arrefecer a luta, as prisões maciças de ativistas, principalmente mulheres, aprofundou a revolta.

O movimento de protesto dos árabes sunitas, um quinto da população do Iraque que reclamam de ser tratados como cidadãos de segunda classe, é tachado, pelo governo, de terrorismo.

Premier Maliki cometeu um erro de cálculo ao acreditar que ganhando tempo, os protestos sunitas iriam esmorecer e poderiam assim dividir sua liderança com promessas de dinheiro e empregos. Agora, tenta convencer os eleitores xiitas de que ele e o seu partido preveniram uma contrarrevolução do Partido Baas de Sadan Hussein, o que expulsaria os xiitas do poder.

O governo iraquiano depende da aliança entre os xiitas e curdos que, antes da invasão dos EUA em 2003, eram oprimidos pelo regime sunita de Saddam Hussein. Mas esta aliança está desgastada: o exército iraquiano e as tropas curdas já entraram em confronto.

TERRORISMO: UMA ARMA DA CONTRARREVOLUÇÃO QUE OS TRABALHADORES AINDA NÃO SABEM COMO LIDAR COM ELA.

Diante de tantos problemas, o premier iraquiano , Malliki. optou por jogar a carta sectária, numa tentativa de escamotear a discussão sobre as principais reivindicações das massas mobilizadas como a corrupção generalizada do governo e falta de serviços básicos, para a questão se segurança. Essa política parece estar surtindo efeito pois os xiitas do Iraque acreditam que poderão vir a enfrentar um luta pela sua existência. Estes temores estão sendo deliberadamente inflacionados pelo governo, o que assegura a base política de Maliki. Os iranianos já expressaram abertamente as suas dúvidas sobre ele, contudo, não querem retirá-lo do poder enquanto luta para salvar o seu aliado na Síria.

A NOVA GUERRA FRIA

No mês passado, os EUA enviou quase uma centena de mísseis ar-terra para a força aérea iraquiana como ajuda para combater o Al-Qaeda. Ironicamente, os mesmos grupos que estão se beneficiando da guerra encoberta e ostensiva dos EUA para desestabilizar a Síria.

Entretanto, o mais surpreendente, embora compreensível, é o envio de ajuda militar da Rússia para o regime de Maliki , o mesmo que recebe ajuda dos EUA.

A geopolítica, hoje, já não funciona como aquela coisa preto no branco da época da guerra fria e da cortina de ferro que separava o mundo em áreas de dominação claras. Agora, predominam as disputas por mercados e por energia, com o capital financeiro disposto a destruir o mundo para impor sua hegemonia. E nessa disputa, o todo poderoso imperialismo norte-americano está vendo seu domínio sobre o mundo escorrer pelo ralo.

A expressão mais contundente do fracasso dos EUA na guerra contra o Iraque está na escolha do governo deste país devastado. Como não poderia impor uma liderança entre os que resistiram à guerra, ou seja, aliados históricos ou circunstanciais de Sadam Hussein, foram obrigados a optar por um xiita praticamente desconhecido da população para funcionar como títere.

Dessa jogada arriscada só poderia sair um governo contraditório que ora aceita as ordens do império, ora se contrapõe a elas. Por exemplo, Maliki apoia o regime de Al-Assad, na Síria e nunca esteve disposto a se contrapor ao Irã, notório desafeto dos EUA/Israel. Aproveitando essas brechas, o premier russo Wladimir Putin se joga na disputa do Iraque, oferecendo ajuda para combater o mesmo terrorismo que ele ajuda a combater na Síria.

O FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO
A evolução dos acontecimentos no Iraque constitui a maior derrota geopolítica dos Estados Unidos em muitas décadas: eles derrubaram o regime anti-iraniano de Sadam Hussein e acabaram por ter um regime pró-iraniano instalado em Bagdad.

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