quarta-feira, 26 de março de 2014

A calamitosa situação da classe trabalhadora brasileira

                           por Mário Medina / RPR- São Paulo

Ontem, numa ida ao supermercado, fiquei chocado ao conversar com uma funcionária sobre seu salário e sua jornada de trabalho semanal. O leitor pode ficar curioso sobre como se deu tal conversa, qual sua finalidade, etc. Faço questão de contar o acontecido.
Fiz normalmente minhas compras, como em todas as terças-feiras costumo fazer. Devo dizer que fiquei chocado com o tomate a mais de sete reais o quilo e decidi não levar, mas comprei frutas, granola, leite de soja... enfim, uma compra como qualquer outra. Mas ao passar no caixa, vi que tinha algo errado com o preço de meia dúzia de bananas da minha compra. Um erro na digitação do código tinha passado as bananas com o preço de um pão de mais de seis reais. Alertei a funcionária do caixa e ela solicitou a ajuda de outros funcionários para cancelar o cômputo e passar o código certo da banana, operação que levou coisa de dois minutos.
Nesse ínterim, conversei com ela sobre sua rotina no mercado. E eis que num breve bate papo a moça me contou alguns detalhes de sua rotina de vida e trabalho. Disse que estava muito cansada, que trabalhava cerca de 50 horas semanais em um esquema de banco de horas, e que recebia cerca de R$ 950 por tal trabalho. Ponderei se não era o caso de abandonar o trabalho em questão para cuidar de achar coisa melhor. Ela respondeu que dependia do trabalho, que nao haveria como sustentar sua casa até encontrar outro trabalho, que não poderia arriscar pois cuida da mãe cardiopata que necessita de remédios caros, num valor de cerca de R$ 500 mensais.
Inclusive a moça me disse de um noivado que teve de romper por falta de tempo, porque o trabalho lhe consome todo o tempo, e que na sua única folga semanal costuma passar cerca de seis horas numa fila de uma espécie de farmácia popular de medicamentos de alto custo, que o governo oferece a troca de muita burocracia e chá de cadeira.
Essa é a dura vida do trabalhador brasileiro. Mas poderíamos ainda acrescentar o dispêndio de tempo para se locomover de casa ao trabalho e vice-versa. A moça me disse que entra às 16:00 e sai às 01:00. Coloquemos aí uma hora ou uma hora e meia a mais, em condições ruins, com transporte público geralmente lotado, em condições degradantes e tal. Tudo isso por um salário miserável. Se ela tiver de pagar aluguel, provavelmente gastará quase todo o dinheiro do salário. Mas ainda tem a comida, a água, a energia elétrica, os custos com vestuário, higiene pessoal, etc. Trata-se de uma moça solteira, o que quer dizer que o máximo de renda familiar com que pode contar é a aposentadoria da mãe. Como os aposentados brasileiros recebem uma miséria , podemos concluir que a renda mensal da moça é mesmo muito baixa, e podemos imaginar todo malabarismo que ela deve fazer para arcar com suas contas.
Ela trabalha em um hipermercado conhecido nacionalmente. Seu patrão deve faturar milhões todos os meses. Imaginem a taxa de lucro e rendimento dos proprietários e acionistas das grandes marcas que se pode encontrar a venda nas gôndolas do mercado, e o quão pouco seus empregados ganham na produção e no transporte das mercadorias. A banana que eu comprei, por exemplo, quanto será que ganha um trabalhador pra colher cachos de banana? Suponho que seja muito pouco. Mas posso supor o bom lucro do patrão. Ou seja, paramos pra imaginar os rendimentos de trabalhadores comuns e seus respectivos patrões e estamos diante de todo um ciclo de exploração do homem pelo homem, de extração de mais valia, de alienação do trabalho e da vida, de condições desumanas impostas à uma classe por outra classe parasita detentora dos meios de produção e do capital.
Esse é o Brasil em que vivemos; o país dos sonhos de Dilma e PT, o país de FHC, de Collor, Sarney, dos milicos que os antecederam... e por aí vai. Toda uma história de opressão e abusos. Esse é o sistema ordinário em que vivemos, onde 99% trabalha feito gado para que 1% usufrua dos benefícios da produção alheia.
Se os canalhas capitalistas querem contar com a força de trabalho do povo, que paguem um salário digno. Nós não aceitamos como justo e suficiente um salário abaixo de R$ 2,750. E também não aceitamos que trabalhadores sejam vitimados pelo excesso de horas trabalhadas. O trabalhador precisa dispor de tempo pra família, pro lazer, pro estudo e pra cultura. É inadmissível que um trabalhador tenha que produzir feito um escravo, ou que viva exclusivamente em função do trabalho.
Se os capitalistas nao querem arcar com os custos de uma sociedade mais justa, então que nao haja mais capitalismo e capitalistas. Sendo assim, lutaremos e faremos a revolução, implantaremos o socialismo e faremos que haja justiça. Mas não podemos nos conformar com essa desgraça toda. O capitalismo caminha inexoravelmente pra barbárie. Ou rompemos com isso ou chegará uma hora em que as coisas ficarão impossíveis.


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