por Mário Medina / RPR- São Paulo
Ontem, numa ida ao supermercado,
fiquei chocado ao conversar com uma funcionária sobre seu salário e
sua jornada de trabalho semanal. O leitor pode ficar curioso sobre
como se deu tal conversa, qual sua finalidade, etc. Faço questão de
contar o acontecido.
Fiz normalmente minhas compras, como
em todas as terças-feiras costumo fazer. Devo dizer que fiquei
chocado com o tomate a mais de sete reais o quilo e decidi não levar,
mas comprei frutas, granola, leite de soja... enfim, uma compra como
qualquer outra. Mas ao passar no caixa, vi que tinha algo errado com
o preço de meia dúzia de bananas da minha compra. Um erro na
digitação do código tinha passado as bananas com o preço de um
pão de mais de seis reais. Alertei a funcionária do caixa e ela
solicitou a ajuda de outros funcionários para cancelar o cômputo e
passar o código certo da banana, operação que levou coisa de dois
minutos.
Nesse ínterim, conversei com ela
sobre sua rotina no mercado. E eis que num breve bate papo a moça me
contou alguns detalhes de sua rotina de vida e trabalho. Disse que
estava muito cansada, que trabalhava cerca de 50 horas semanais em um
esquema de banco de horas, e que recebia cerca de R$ 950 por tal
trabalho. Ponderei se não era o caso de abandonar o trabalho em
questão para cuidar de achar coisa melhor. Ela respondeu que
dependia do trabalho, que nao haveria como sustentar sua casa até
encontrar outro trabalho, que não poderia arriscar pois cuida da mãe
cardiopata que necessita de remédios caros, num valor de cerca de R$
500 mensais.
Inclusive a moça me disse de um
noivado que teve de romper por falta de tempo, porque o trabalho lhe
consome todo o tempo, e que na sua única folga semanal costuma
passar cerca de seis horas numa fila de uma espécie de farmácia
popular de medicamentos de alto custo, que o governo oferece a troca
de muita burocracia e chá de cadeira.
Essa é a dura vida do trabalhador
brasileiro. Mas poderíamos ainda acrescentar o dispêndio de tempo
para se locomover de casa ao trabalho e vice-versa. A moça me disse
que entra às 16:00 e sai às 01:00. Coloquemos aí uma hora ou uma
hora e meia a mais, em condições ruins, com transporte público
geralmente lotado, em condições degradantes e tal. Tudo isso por um
salário miserável. Se ela tiver de pagar aluguel, provavelmente
gastará quase todo o dinheiro do salário. Mas ainda tem a comida, a
água, a energia elétrica, os custos com vestuário, higiene
pessoal, etc. Trata-se de uma moça solteira, o que quer dizer que o
máximo de renda familiar com que pode contar é a aposentadoria da
mãe. Como os aposentados brasileiros recebem uma miséria , podemos
concluir que a renda mensal da moça é mesmo muito baixa, e podemos
imaginar todo malabarismo que ela deve fazer para arcar com suas
contas.
Ela trabalha em um hipermercado
conhecido nacionalmente. Seu patrão deve faturar milhões todos os
meses. Imaginem a taxa de lucro e rendimento dos proprietários e
acionistas das grandes marcas que se pode encontrar a venda nas
gôndolas do mercado, e o quão pouco seus empregados ganham na
produção e no transporte das mercadorias. A banana que eu comprei,
por exemplo, quanto será que ganha um trabalhador pra colher cachos
de banana? Suponho que seja muito pouco. Mas posso supor o bom lucro
do patrão. Ou seja, paramos pra imaginar os rendimentos de
trabalhadores comuns e seus respectivos patrões e estamos diante de
todo um ciclo de exploração do homem pelo homem, de extração de
mais valia, de alienação do trabalho e da vida, de condições
desumanas impostas à uma classe por outra classe parasita detentora
dos meios de produção e do capital.
Esse é o Brasil em que vivemos; o
país dos sonhos de Dilma e PT, o país de FHC, de Collor, Sarney, dos
milicos que os antecederam... e por aí vai. Toda uma história de
opressão e abusos. Esse é o sistema ordinário em que vivemos, onde
99% trabalha feito gado para que 1% usufrua dos benefícios da
produção alheia.
Se os canalhas capitalistas querem
contar com a força de trabalho do povo, que paguem um salário digno.
Nós não aceitamos como justo e suficiente um salário abaixo de R$
2,750. E também não aceitamos que trabalhadores sejam vitimados pelo
excesso de horas trabalhadas. O trabalhador precisa dispor de tempo
pra família, pro lazer, pro estudo e pra cultura. É inadmissível
que um trabalhador tenha que produzir feito um escravo, ou que viva
exclusivamente em função do trabalho.
Se os capitalistas nao querem arcar
com os custos de uma sociedade mais justa, então que nao haja mais
capitalismo e capitalistas. Sendo assim, lutaremos e faremos a
revolução, implantaremos o socialismo e faremos que haja justiça.
Mas não podemos nos conformar com essa desgraça toda. O capitalismo
caminha inexoravelmente pra barbárie. Ou rompemos com isso ou
chegará uma hora em que as coisas ficarão impossíveis.
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