por Beth Monteiro
Há uma contradição flagrante entre o discurso e as ações do
presidente uruguaio
Está clara a intenção dos ideólogos do capitalismo ao
abraçarem as causas das minorias e dos Direitos Humanos: estas lutas, embora
justíssimas, não implicam em mudanças radicais do sistema econômico vigente, e
por isso estão servindo como mais um instrumento político de dominação, desta
vez levando ilusões até mesmo a amplos setores que se reivindicam de esquerda e
defensores dos direitos humanos.
Talvez o modelo de maior sucesso, que está servindo de modelo
a ser usado como uma tentativa desesperada para prorrogar a vida vegetativa do capitalismo,
seja o de Pepe Mujica no Uruguai.
O URUGUAI É UM PAÍS CONHECIDO PELO SEU PIONEIRISMO EM MEDIDAS
RELACIONADAS COM DIREITOS CIVIS e democratização da sociedade: em 1907, foi o
primeiro país a legalizar o divórcio; em 1932, o segundo país da América a
conceder às mulheres o direito ao voto. Em 2007, quando Mujica ainda não era
presidente, o Uruguai foi o primeiro país sul-americano a legalizar uniões
civis entre pessoas do mesmo sexo.
OBSERVADORES POLÍTICOS CONSIDERAM O URUGUAI O PAÍS MAIS
SECULAR NAS AMÉRICAS. Em 1909, toda e qualquer educação religiosa foi banida
das escolas públicas; em 1917, a completa separação entre Igreja e Estado foi
introduzida na Constituição. O Uruguai se converteu no país mais laico da
região com várias medidas que já levam mais de um século, como o fim dos
feriados religiosos. Lá o Dia de Reis se chama Dia das Crianças, a Semana Santa
é a Semana do Turismo e o Natal se conhece como o Dia da Família.
A partir destas
características e de conquistas já assimiladas pela população menos conservadora
da América Latina, Mujica ousou avançar um pouco mais, fazendo algumas mudanças
como transformar a lei já existente, sobre união civil, em casamento gay, aprovar
a descriminalização do aborto e a legalização da maconha. Entretanto, seu governo não legislou em favor
dos interesses dos trabalhadores uruguaios. O modelo econômico permanece o
mesmo.
CONTRADIÇÕES
Mujica posa de grande defensor do meio ambiente, mas deu
carta branca para as empresas transnacionais poluírem à vontade, tendo a seu
dispor generosos incentivos fiscais. Nunca o Uruguai deu tanta terra para as
multinacionais que incluem empresas que cultivam soja GM com agrotóxicos e
desenvolvem projetos de mineração a céu aberto que está causando um grande impacto
negativo ao meio ambiente.
UM TERÇO DOS TRABALHADORES URUGUAIOS ganha menos de 14.000
pesos por mês, quando se estima que, para a família média de quatro pessoas,
seriam necessários 50 mil pesos mensais para cobrir as necessidades básicas. Os
ricos, no entanto, continuam cada vez mais ricos. E se, por um lado, houve uma
ligeira valorização salarial e queda na taxa de desemprego, por outro lado, a
maioria dos trabalhadores é obrigada a aceitarem a precarização.
O governo de Pepe Mujica afastou-se do programa inicial da
Frente Ampla e de sua retórica anti-imperialista e antioligárquica, optando por
uma coalizão socialdemocrata. Assim, ficou livre para enganar o povo com um
discurso de viés progressista para convencer o eleitorado de que um capitalismo
desenvolvido com a vinda de grandes multinacionais levaria o país ao Socialismo
(??!!).
O EX-GUERRILHEIRO MUJICA DIZ SER A FAVOR DE UM CAPITALISMO
MAIS HUMANO, ao mesmo tempo em que segue determinações do FMI e do Banco
Mundial, em detrimento dos trabalhadores, que têm se decepcionado com as
consequências do retorno do Uruguai a total dependência do capital estrangeiro,
com serviços financeiros levando expressiva parcela do PIB, o que acarreta ao
país a fama de ser um paraíso fiscal. Atualmente, a Dívida Pública se converteu
em 125% do PIB, índice semelhante ao
alcançado na época da Ditadura Militar.
MUJICA ESTÁ SERVINDO COMO UMA MARIONETE OU “GAROTO
PROPAGANDA” DO CAPITALISMO, mostrando ao mundo as qualidades e os benefícios
que pode trazer a um país um governante austero em sua vida pessoal e que não
seja corrupto em sua vida pública. Para isso, ele usa frases de efeito e uma
filosofia duvidosa que agrada a todos: desde Obama e especuladores como George
Soros que apoiou e financiou a campanha pela legalização da maconha de olho nos
lucros que a Monsanto terá com a cannabis GM, até ambientalistas do Greepace,
passando pela esquerda festiva que não se cansa de admirá-lo pela sua coragem de
governar em prol das minorias oprimidas, mesmo que isto signifique governar
contra a maioria explorada e em prol das oligarquias.
Fontes: La República –Ministério das Relações Exteriores do Brasil –Wikipédia - Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário